Não tenho medo algum de me arriscar na cozinha. Muito pelo contrário. Um dos meus hobbies é preparar as refeições dos finais de semana. Estudar receitas, comprar ingredientes, pesar tudo, cortar, temperar, cozinhar, servir, comer… Até lavar a louça tem sua diversão.

Contudo, me falta autoridade cultural para alguns tipos de prato. O almoço caipira é um deles. Nascido, criado e sempre vivido em Goiânia, a comida da fazenda me traz excelentes memórias afetivas. Acho que todo goiano tem isso consigo. Arroz com frango caipira, da carne mais rija e menos farta. Tutu de feijão. Angu. Quiabo. Sempre com fartura de açafrão. Não é mentira: enquanto escrevo isso preciso engolir a saliva que abunda em minha boca. Gente gorda é assim: começa a falar de rango e a boca enche d’água.

Minha companheira também gosta da cozinha. É exímia no trato das panelas. Até nutrimos uma saudável disputa interna para ver quem faz os rangos mais saborosos. Bom para nós dois. Só que a culinária roceira não a seduz. Por ter morado uma parcela da vida na fazenda, essa comida era sua rotina. Enquanto para nós da cidade esses pratos trazem memória de férias, encontros familiares, diversão com os primos e tudo mais, para ela nada mais é que um passado de dificuldades e privações. Totalmente compreensível sua restrição a esses pratos.

Nisso, eu me lasco. Não tenho autoridade cultural para fazer o que gosto bem feito, minha mulher que possui essas credenciais não se interessa. E não me venha indicar restaurantes: comer comida caipira em restaurante é mais sem graça que desfile de escola de samba em Tóquio.

Mas a sorte sorriu para mim. Minha sogra está passando uma semana no meu lar. Ela mora na fazenda. Sabe como poucos o que é a legítima comida de roça de Goiás. Está no seu DNA.

Assim que ela desceu do carro, já estipulei o preço da hospedagem: um legítimo almoço caipira na sexta-feira. Enquanto escrevo esse texto, já imagino o frango na panela grande amarelinho de açafrão. Novamente, mal consigo conter a saliva dentro de minha boca.

É um privilégio ter uma sogra que se torna sua segunda mãe. Ela foi em Nerópolis buscar o frango. Dona Lucélia diz que os caipiras de Goiânia não prestam. Quem sou eu para duvidar. Comprou tudo por lá.

Não vejo a hora de terminar o programa na rádio hoje e seguir pra casa. Não se trata da típica animação de sexta-feira, nem da certa cerveja que me espera após 18 horas. É a saudade de comer um legítimo almoço de fazenda goiana. Alguns chamam isso de comfort food. Eu chamo de banquete.

Prometo fazer uma foto e depois postar no meu Instagram, beleza? Só para lhe passar vontade.

Comente

X