Se existe uma tradição no mundo da qual sou zeloso é a da pizza no domingo de noite. Se não rolar o típico prato italiano com uma garrafa de vinho para fechar o final de semana, parece que não estou pronto para encarar os reveses da segunda-feira que me aguarda.

No último domingo, pedi para receber em casa uma pizza metade Moda e metade Carne Seca com Catupiry. Pouco tempo depois, já limpando o bigode sujo de azeite com o guardanapo, me veio a pergunta que motiva esse texto: em que momento a vida do catupiry deu errado?

Sei que catupiry é uma marca específica do genérico requeijão cremoso. Logo, deveria ter a primeira letra escrita em maiúsculo por ser nome próprio. Deveria. É verdade que se trata de uma marca devidamente registrada, mas isso não pegou no linguajar popular. Assim como para muita gente denomina qualquer refrigerante de guaraná. Ou gilete serve para explicar qualquer instrumento que raspe os pelos. Não tem jeito: qualquer requeijão cremoso de qualquer marca será sempre chamado de catupiry.

Eu me recordo perfeitamente quando o catupiry surgiu nos cardápios de Goiânia. Embora sua existência seja bem anterior, foi na década de 1990 que ele pintou com força. E era tido como iguaria fina. A coxinha com catupiry tinha alguns reais a mais em seu preço por conta do queijo cremoso misturado ao recheio de frango. Mesma coisa com os sabores de pizza que contavam com a presença do catupiry. Daí em diante, ele foi se alastrando: pit dog, pamonha, pastel, cachorro-quente…

Nesse processo de popularização, há um ponto de inflexão em que o catupiry perdeu sua aura de prestígio para ser compreendido como item farofado do cardápio. Percepção que, acredito, é a que prevalece atualmente.

De barriga cheia, Tim Maia tocando na vitrola, tendo aprovado com louvor a mistura de carne seca com catupiry, fiz minha ébria reflexão da noite de domingo sobre o assunto. Acho que o momento em que a reputação do catupiry foi para o saco se deu quando começaram a vender as pizzas com borda recheada.

Esse foi o tiro de prata no coração da reputação do catupiry. Convenhamos, borda recheada é o fim da picada. O queijo que tem a nobre função de deixar úmido os recheios e apurar seu sabor, com a borda recheada se transforma em excesso. Todo pedaço vem com aquela gorda borda de catupiry, o que deixa o queijo enjoativo.

Depois do advento da borda recheada, o catupiry nunca mais foi o mesmo. Hoje, vive marginalizado. Não tem espaço nos cardápios de hamburguerias hipsters, lanches descolex e é ridicularizado por todxs foodies. Triste sina.

Eu, orgulhosamente peão, reclamo se meu X-Tudo não chega com uma generosa taturana de catupiry – misturado à batata palha, a dupla compõe um presente da primeira mordida do sanduíche. E ainda peço ao menos um sabor de pizza que conte com o catupiry nos ingredientes. Só sinto pena de quem o despreza.

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