Um casal de amigos se divorciou recentemente. Chamar o término de litigioso seria abusar do eufemismo. A treta rolou pesada. Acusações mútuas, traições, barracos e rancor de sobra para tudo quanto é lado. Como manda a prudência, fiquei só observando de longe.

Passados poucos meses, os dois andam meio de cara virada para mim. Acham que eu tomei partido do outro. Acreditam que minha atitude de tentar manter uma certa equidistância do término é jogar a favor do lado oposto. É compreensível, mas muito injusto. Não é por que continuo mantendo relação de amizade com o ex que me transformei em inimigo da pessoa.

É claro que tenho minhas opiniões. Até acho que um vacilou mais que o outro na história. Se este tivesse mais maturidade ao lidar com um problema específico, as coisas poderiam ter se encaminhado de outra forma. Mas isso é só minha percepção. E ela pode estar muito equivocada. Eu não vivia a rotina interna do apartamento deles para saber as nuances e particularidades do relacionamento.

Quando somos um casal e frequentamos o mesmo círculo de amizades, é normal que, ao término, essa rede permaneça a mesma, não? Para mim, isso é óbvio. Para muita gente não. Quem era amigo antes teria um certo direito adquirido perante aquelas amizades. Uma grande bobagem possessiva que parece infestar o sentimento de muitos.

Eu já tinha vivido situação semelhante quando dois amigos desmancharam uma sociedade. Dividir um negócio com sócios nada mais é que um casamento, só que com um facilitador: não existe, em tese, sexo na jogada. Os dois se sentiam traídos e exigiam fidelidade dos amigos em comum. Claro que isso não aconteceu. Passados anos e anos, eles conseguiram relevar o rancor para com os amigos, mas ainda não conversam entre si. Para você ver que a coisa foi séria.

Deus me livre ter que tomar partido em situações assim. Meus próprios problemas já são grandes o suficiente para minha capacidade de resolução. Trazer para minha alçada as complicações alheias seria de uma burrice descomunal. Não que eu não faça burrices descomunais, isso é até comum, mas não burrices dessa ordem.

Acho que o passar do tempo vai cicatrizar as mágoas do casal e eles vão conseguir pensar com mais lucidez sobre o divórcio. Com isso, compreenderão que é possível qualquer um manter amizade com os dois, sem ter que escolher um lado. Até lá, vou evitar maiores estresses e deixá-los confortáveis para a reflexão. Cada um vai ter que lamber sua própria ferida até pare de doer.

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