A terceira edição da Manga de Vento – Mostra Expandida de Dança se inicia na sexta (4/5), no Centro Cultural UFG, em Goiânia, com três espetáculos dirigidos por Hugo Rodas. Com apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás, o programa segue até outubro deste ano reunindo trabalhos contemporâneos, nacionais e internacionais, que rompem limites da linguagem artística.
Uma pequena retrospectiva do trabalho do dramaturgo uruguaio radicado no Brasil, Hugo Rodas, traz a Goiânia a OperAta, nos dias 4 e 5 de maio, às 20 horas, quando a Agrupação Teatral Amacaca (ATA) encena um programa duplo, com os espetáculos Ensaio Geral e Punaré e Baraúna. A produção conta com apoio do Fundo de Arte e Cultura do Distrito Federal.
Ensaio Geral brinca com o ambiente de ensaio de um grupo de teatro musical. A narrativa é construída sobre diversas perspectivas da palavra “amor”, com textos de Hilda Hilst, Caio Fernando Abreu, Carlos Drummond de Andrade, Charles Chaplin e Eduardo Galeano, livremente adaptados pelo grupo.
Com direção musical de Cacai Nunes, a mesma orquestra que canta os amores urbanos de Ensaio Geral reposiciona e transmuta os móveis de uma festa para contar solidões sertanejas de Punaré e Baraúna, filhos da escassez do sertão. O espetáculo inspirado na obra literária Cansaço – a longa estação, de Luíz Bernardo Pericás, compartilha com o público duas verões sobre um mesmo entrevero provocado pelo desejo de dois homens por uma mesma mulher, a encantadora Cicica.
No domingo (6/5), às 20 horas, um segundo elenco também dirigido por Hugo, apresenta a remontagem de Adubo ou a Sutil arte de escoar pelo ralo, um espetáculo sobre a morte e o ato de morrer. O fio condutor é o atropelamento de um cão filhote, instalando atmosfera oscilante entre o fúnebre e o lírico, o riso e o nó na garganta, celebrando a vida diante da certeza inefável do fim.
Curadoria
O bailarino e coreógrafo Kleber Damaso, que assina curadoria e direção artística da mostra, lembra que a “manga de vento” é um dispositivo de análise do sentido do movimento. Conhecido também como “biruta”, este instrumento encontrado em campos de pouso e decolagem informa sobre a orientação do vento.
“Essa vulnerabilidade do dispositivo é avessa à ideia de apontar tendências, de circunscrever escolhas temáticas, de defender circuitos consolidados, entre outras expectativas tantas vezes sustentadas pelo discurso curatorial. Aspiramos um programa que contempla do pensamento coreográfico que extrapola os entendimentos de corpo, às pesquisas que avançam naquilo que a dança traz de mais elementar – estar em movimento – mesmo quando este movimento não é exclusivamente da ordem do visível”, reflete o curador.
Segundo Damaso, essa edição vislumbra um descolamento do recorte ainda presente e não menos importante sobre o esgarçamento dos contornos da dança, que agora se transborda na iminência de olhar “o passado” como um exercício imprescindível de localização e complexificação da obra e do estado de arte. Para ele, um anseio que esta manifestado na composição de retrospectivas, na aproximação e interlocução de projetos, no esforço de pensar trajetórias, de coproduzir tantas outras, de destacar o fôlego e a resistência inscrita na inquietude, na inconformidade, na permanente mobilidade.
Outro aspecto patente da Mostra é a estrutura do programa, composto por conjuntos de atividades mensais, com espaçamentos de tempo. O produtor artístico da mostra, Guilherme Wohlgemuth, lembra que, desde o início, realizar a mostra ao longo de vários meses é uma opção que favorece o diálogo e o engendramento de encontros entre artista e público, entre artista e artista, “porque as ações promovidas nunca estiveram direcionadas estritamente à contemplação estética”.
Wohlgemuth ainda complementa alargando o debate: “A necessidade de revisitar as trajetórias dos artistas convidados pela Mostra como estratégia de revidar os usos inapropriados e políticos de obras de arte, nos leva a indagar sobre as responsabilidades e desdobramentos da atividade curatorial, que especialmente nessa edição, procura incitar um olhar menos linear para desvendar as discussões que, a princípio, estão fora de campo, e que são de fato relevantes nas obras selecionadas, mas que por interesses escusos não estão em evidencia nos grandes meios de circulação de informações sobre a arte”.
A programação se constitui sem um destaque principal, mas com vários destaques do começo ao fim. Se em alguns momentos, Manga de Vento suscita a oportunidade de abranger e adensar na trajetória de seus convidados (a exemplo de Hugo Rodas e Wagner Schwartz), em outros é capaz de tencionar a sutileza que perpassa a memória e o desaparecimento, a inclinação e a objeção ao esquecimento. Até outubro, o programa prevê também o contato com a obra de Denise Stutz (RJ), Grupo Empreza (GO), Grupo Cena 11 (SC), Dudude Hermmann e Marco Paulo Rolla (MG) e Carmen Werner (Espanha), entre outros.
SERVIÇO:
Abertura da Manga de Vento – Mostra Expandida de Dança
4 e 5/5 – 20h
OperAta: Ensaio Geral + Punaré e Baraúna . ATA – Agrupação Teatral Amacaca (DF)
(Classificação indicativa: 18 anos)
6/5 – 20h
Adubo ou a Sutil arte de escoar pelo ralo . Abaetê Queiroz, André Araújo, Pedro Martins e Rosanna Viegas (DF)
(Classificação indicativa: 18 anos)
Local: Centro Cultural UFG (Avenida Universitária, 1533, Setor Leste Universitário)
Entrada: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)