Domingo é comemorado o Dia das Mães. Data daquele almoço em família, colocar o papo em dia com parentes que há tempos não encontramos e dar um beijo nas mães.
Ontem, passei a tarde no shopping comprando presente para as mães do meu entorno pessoal. Essas efemérides de mercado sempre me colocam em xeque. Em todas essas datas que o comércio impõe (e ai de nós se não entrarmos no jogo), tenho a impressão de que estou sendo repetitivo. Aflora a sensação de que já dei aquilo que escolhi para a pessoa que quero agradar. Sério, presentear não é minha especialidade.
Tento surpreender e colocar um pouco do meu gosto para a pessoa. Ter uma assinatura, não ser tão genérico… Essas baboseiras que a gente faz por acharmos que temos alguma importância para o outro – o que nem sempre é verdade. A gente almeja que aquilo que foi dado seja lembrado, tenha um significado e coisa e tal.
Por outro lado, o presente não é para mim. O contemplado é quem deve ser agradado. Achar esse meio termo entre a assinatura de quem presenteia e as preferências de quem recebe é o grande desafio. E normalmente falho miseravelmente na estúpida tentativa de encontrar esse ponto de equilíbrio.
Acho de uma impessoalidade tremenda presentes do tipo voucher. São inegavelmente funcionais, porém acabam com a mística. Se é para ser direto ao ponto, seria mais prático transferir uma grana para a conta da pessoa. Cumpre a função com perfeição, mas extermina a poesia.
Entretanto, existe o risco de minhas idiossincrasias tomarem conta do processo e eu presentar com algo que só faz sentido no meu gosto absolutamente esquisito. Creio que não foram poucas as vezes que caí nesse erro.
Eu gosto de dar livros. Certamente por também adorar ganhar livros. Mas esse é um terreno perigoso. Primeiro, por que moramos em um país no qual o índice de leitura tem os dois pés cravados no infame. Depois, vem o desafio de acertar as preferências estéticas do presenteado. Nesse ponto, minha mãe é até fácil de ser agradada. Conheço suas predileções. Para outras pessoas, já me sinto incomodado de entrar nessa seara.
Vestimentas, calçados e acessórios são áreas que nem ouso pisar. Não tenho o menor talento para acertar a preferência de outra pessoa. Meu estilo mendigo me impede de qualquer manifestação nesse segmento. E qualquer tentativa de minha parte nessa seara, já digo que devo ser prontamente encaminhado para interdição judicial. Não estarei gozando plenamente de minhas faculdades mentais.
Não vou contar o que comprei ontem para não estragar a surpresa das mães que presenteio – sei que algumas me acompanham por aqui. Mas já digo que não foi fácil.
Certamente mais fácil do que encarar todas as contrações do parto e todas dores de cabeça que dei na sequência dos anos. Disso, não tenho dúvidas.

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG.