Meu chefe me chama na sala dele. Começa a elaborar planos para o segundo semestre, pede minha opinião, me oferece um cafezinho. Entra um colega no recinto e fala sobre as dificuldades de executar o planejamento. Com educação, discordo. Apresento meu ponto de vista. A reunião segue. Mas, na verdade, minha cabeça não estava ali. Meu corpo se fazia presente, meu pensamento estava do outro lado do mundo: como o Cueva chutou aquela bola tão acima do gol?
Uma amiga começa a contar uma história triste sobre suicídios entre adolescentes. Percebo a seriedade do assunto e faço expressão respeitosa. Ela está preocupada. Os casos ao seu redor começam a ficar mais frequentes. Checou na internet e esse problema já é compreendido por especialistas como epidemia. Assunto triste e que toca profundamente quem, como eu, já tem filhos. Mesmo com a convicção de que o assunto é grave, não consigo me concentrar. Só pensava em quanto eu gostaria de que a Alemanha caísse na já primeira fase após a derrota para o México.
Minha companheira está cheia de sonhos para nossa casa. Quer fazer uma pequena reforma que almeja iniciar em agosto ou setembro. Pesquisa modelos no Pinterest, preços de materiais de construção nos catálogos que distribuem nos sinaleiros, pedreiros nos grupos de WhatsApp de conhecidos. Sua dedicação me comove. Tento aparentar estar tão interessado quanto ela nessa pesquisa, mas não consigo enganá-la. Ela me conhece de verdade. Sabe quando deixo meu olhar em algo, mas minha cabeça em outro. Vem a pergunta fatal: “o que você está pensando?”. Não consigo mentir e respondo a verdade nua crua. Qual gol foi mais bonito: o do Philippe Coutinho ou o primeiro da Bélgica?
Hoje de tarde tenho uma reunião de trabalho. Algo que já foi reagendado algumas vezes por conta de outros compromissos. Diferente de tantas outras reuniões que não decidem nada e são pura perda de tempo, essa é realmente importante. Mas não estou feliz com as possíveis resoluções que teremos. Na verdade, estou bem chateado. Vou perder Rússia e Egito que entrarão em campo mais tarde.
Tenho meus prazos aqui no O que Rola bem apertados. O texto tem dia certinho para chegar na mão da editora Taynara Borges, que o coloca no ar. Corro com cada palavra, releio para ver se não escrevi nada errado, tento encontrar as melhores expressões para facilitar sua compreensão, nobre leitor. Deixo uma página aberta no lance a lance de Colômbia e Japão. Ouço um sinal de gol. O Japão marcou o segundo gol e preciso ir ali ver como foi. Desculpe…

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG.