Não me canso de dizer que adoro Copa do Mundo. Cada edição me marca de alguma forma. É claro que algumas são mais intensas que outras pelos mais variados motivos. Mas me recordo exatamente de cada uma e como elas se encaixam em minha vida.

Onde eu estudava, onde trabalhava, quem eu namorava, o que fiz na comemoração posterior a cada jogo, com quem assisti, se minhas filhas já tinham nascido…

Sinto uma identificação profunda com o torneio. E ainda mais com a camisa da Seleção Brasileira. Se minha memória não vale nada para a maioria das coisas, não posso dizer o mesmo quando o assunto é Copa do Mundo.

Nasci em 1979 e da Copa de 1982 só me recordo das figurinhas do chiclete Ping Pong. Também da movimentação familiar para ver os jogos. Mais nada além disso. Já a de 1986 me molda como ser humano. Até hoje não sei como não morri de desidratação por conta da eliminação contra a França nas quartas-de-final e o fatídico pênalti do Zico. Junto da derrota do Goiás para o Independiente na final da Copa Sul-Americana em 2010, são minhas maiores dores, e talvez ainda não cicatrizadas, quando o assunto é futebol.

De todas as Copas que acompanhei, lembro da camisa da Seleção que tive. Em 2018, vivemos algo inusitado. A camisa da Seleção Brasileira foi alçada a símbolo político desde os protestos pelo impeachment em 2015. Na estéril/histérica dicotomia política que vivemos, o uniforme se transpôs de ícone esportivo para questão de identidade nesse sistema binário.

E eu não quero que me vejam como partidário de direita, mas também não quero perder o direito de usar a amarelinha. Sabe o que fiz? Liguei o foda-se.

Vou usar a camisa da Seleção Brasileira o quanto eu quiser. E Odair José me ensinou que não importa o que os outros vão pensar.

Uma coisa em particular me irrita: quando dizem que estou ostentando o escudo de uma entidade corrupta como a CBF. É claro que o brasão dos bandidos está na camisa, mas não uso para lembrar de Ricardo Teixeira, José Maria Marin, Marco Polo del Nero, Coronel Nunes ou Rogério Caboclo. Quando visto a camisa, lembro de Romário, Zico, Júnior, Careca, Bebeto, Ronaldo, Tostão, Gérson, Pelé e tantos outros.

Da mesma forma que quando uso a camisa do Goiás, nem penso no patrocinador que está ali, seja Coca-Cola, Unimed, Neo Química ou Hospital Anis Rassi. Nem quando visto a do Flamengo, me preocupo com Lubrax, Petrobras ou MRV. Uso pelos jogadores e pela minha identificação com o clube.

Se você quer ser do time que dá de ombros para o Mundial e o vê como fator de alienação, respeito total. Mas isso não lhe dá o direito de me encher o saco por assar carne e beber cerveja às nove da manhã para ver o Brasil em campo, beleza?

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