“A visibilidade dos corpos negros vem acontecendo por que estão dizendo não aos silenciamentos e as opressões até então impostas”

Mulher negra, dançarina, mãe da Sofia, educadora e artivista feminista. Dayana Gomes vive no interior do Goiás, mais precisamente em Iporá, onde assume a coordenação pedagógica de uma escola da Rede Estadual.

Pesquisadora e mestre em Performances Culturais, esta guerreira também mobiliza e articula a Rede de Mulheres do Oeste Goiano, atuação em defesa dos direitos humanos e minorias que fez que fosse reconhecida entre as cinco mulheres indicadas para receber o prêmio “Deusdete José de Oliveira”, promovido pelo campus Universidade Estadual de Goiás (UEG).

Particularmente, a gente da série 5XArte ficou muito feliz e encantada quando nossa entrevistada disse que seria sua primeira entrevista “tão subjetiva”, “profunda” e que “propunha  uma relação dela com a sua arte si”.  Por que é tempo de inverter a pirâmide… De falar de arte, de mulher, de negritude e tudo que nos mobiliza.

Agradecida por permitir a exposição da sua coragem e a dançar pílulas arteiras de sua vida por estas linhas. Você que nos lê, está convidadx a dançar conosco, reflexões que soam como música para nossos ouvidos. Bora lá que é hora de prosear!

Foto: Lizi Dalenogari 

Mulher negra X Mulher negra na arte

Como você vê os espaços da mulher e da mulher negra nas expressões artísticas?  Na sociedade como um todo?

Nós mulheres negras artistas precisamos falar mais sobre nós e sobre tudo falar do que produzimos e criamos. Acredito que muitos rompimentos estejam acontecendo sim. Os corpos negros sempre produziram e criaram artisticamente. A invisibilidade destas produções é um processo que faz parte da cultura do racismo (e que precisa ser desconstruída) e a visibilidade deles vem acontecendo por que estes corpos estão dizendo não aos silenciamentos e as opressões até então impostas.

Arte no Interior X Interior da Arte

Como é seu trabalho em uma cidade do interior de Goiás, um estado?

É a primeira vez que falo especificamente deste trabalho. Um trabalho de resistir e insistir. Seja em qualquer lugar do estado (capital ou interior) reconhecidamente patriarcal, violento, machista, homofóbico, misógino é preciso resistir. Sou abordada inúmeras vezes por não me calar. Mas minha militância é cotidiana. No supermercado, rádios, escolas, comunidades, com a dança, com a fala, com o olhar, na família e outros encontros. Sou procurada por muitas mulheres, porque elas já entendem o que significa acolhimento e cuidado. E tem também um trabalho de empoderamento de meninas negras. Posso dizer que 80% das meninas negras da minha escola já cortaram as químicas dos cabelos e atravessam um processo de assumirem seus corpos negros aos 12- 13 anos de idade. Isso para mim é muito importante.

Arte de Luta X Luta da Arte

Para você, quais as principais demandas \ pautas (sensíveis, estética, políticas …)  que a arte traz atualmente?  Qual sua relação com as políticas públicas?

A arte pode assumir diferentes intenções. Poéticas, estéticas, conceituais e diversas outras. Em todas elas para mim podemos fazer leituras políticas, de manutenção, ou de desconstrução, ou de atravessamentos afetivos. Hoje me interessa reconhecer as poéticas que descontroem a colonização dos corpos. A experimentação que está atravessada por processos criativos não convencionais e de intenções que contribuem para que possamos avançar social e coletivamente. “Arte combativa” se assim posso dizer.

Arte do Gênero X Gênero da Arte

Acredita que a arte tem ajudado a combater a violência contra a mulher e defender sua integridade física, sensível, intelectual … ?

Acredito sim. A arte nos atravessa socialmente e ela pode realimentar a cultura da opressão ou pode ser combativa. Diante de tantos golpes, físicos, morais e políticos a arte não pode se dar ao luxo de se manter estacionada ao belo e inquestionável. Muito pelo contrário pode ser uma arma poderosa.

Poética X Dança

O que te move?  Para você, qual a potência expressiva e sensível da dança? Sua contribuição para os pensamentos-corpos contemporâneos?

O que mais me move? Eu tenho pressa de que minha filha cresça, seja respeitada, se sinta segura e não se sinta tão só. Vejo a dança como um caminho para esse autoconhecimento e encorajamento. Acredito que um corpo que dança pode saber dizer sim e dizer não. Afinal dançar é uma auto permissão, exige coragem.

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Janaina Gomes é criativa, capoeirista angoleira, comunicóloga, dançadeira, Shiatsu terapeuta, performer, eterna estudante. Arrisca a se jogar em tudo que lhe dá na telha, especialmente, quando em boas companhias. Pílulas sensíveis de gente arteira enviar para janainagomes@gmail.com.

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