Os mais velhos certamente vão se lembrar do baixinho da Kaiser. Personagem icônico na publicidade brasileira, o bigodudo encarnou a marca de cerveja em comercias de televisão que fizeram história. Em certa ocasião, o baixinho está jogando uma pelada com amigos. Uma bola é cruzada na área, bate na cabeça dele e entra no gol. Ele nem percebeu a jogada e é celebrado como herói pela façanha.

Se não exatamente, foi mais ou menos isso que aconteceu ontem com Geraldo Alckmin.

O candidato tucano à presidência da República não vendia expectativa de poder. Ontem teve uma excelente notícia para mobilizar seu desanimado exército: um considerável bloco de partidos (DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade) resolveu apoiá-lo.

Convenhamos, em condições normais de temperatura e pressão, os partidos que compõem o Centrão já teriam há muito pulado para dentro do barco do PSDB. Se não o fizeram antes, foi justamente pela falta de perspectiva de poder da candidatura do paulista.

O flerte com Ciro Gomes era antinatural para esse bloco político outrora liderado por Eduardo Cunha. Se os diálogos aconteciam, a motivação era a baixa confiança no desempenho de Alckmin.

Com o Centrão pegando o caminho tucano, o pedetista é o maior derrotado nesse processo. Tentou de tudo trazer os partidos fisiológicos para seu lado. Não conseguiu. Agora terá que realinhar seu discurso à esquerda, onde cresce o sentimento de que o cearense não tem lado definido e seria um maria-vai-com-as-outras.

É certo que o tucano teve que entregar mais do que queria para o fisiologismo do Centrão. Mas era o que lhe restava. Com isso, Alckmin garantiu sobrevida até o final de agosto, que é quando começa o horário eleitoral obrigatório na rádio e TV.

Ele terá quase metade do tempo total por conta do robusto apoio partidário. Enquanto candidato, seu dever agora é mostrar crescimento nas pesquisas a partir de setembro. O tucano ganhou oxigênio.

Pensando adiante, o X da questão é se isso será suficiente para vencer o pleito. Dizem que a campanha de 2018 é a mais parecida de todas com a de 1989. Se os especialistas estiverem certos, Alckmin tem um problema. Na primeira campanha presidencial depois da ditadura militar, Ulysses Guimarães do PMDB tinha a maior fatia do horário eleitoral. Quando as urnas foram abertas, ficou com menos de 5% dos votos válidos. Collor e Lula garantiram vaga no segundo turno.

O desafio de agora de Alckmin é transformar apoio partidário e estrutura em voto.

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