O dia começa com a melhor notícia possível: todos garotos e o técnico da equipe infantil de futebol foram resgatados com vida da caverna tailandesa. É claro que não podemos nos esquecer do herói Saman Kunan, atleta e militar da marinha da Tailândia, que faleceu ao ficar sem oxigênio nas operações de resgate. Uma figura para ser eternamente lembrada. Apesar disso, devemos aplaudir o êxito quase completo do trabalho.

Desde o início desse drama no sudeste asiático, me recordo de quando também fiz uma expedição em cavernas. E não pretendo nunca mais repetir a experiência. Foi legal, mas já fiz o check-in da vida para esse tipo de aventura. Prudência nunca é demais.

Foi em 1997. Eu tinha 18 anos recém completos. Minha então namorada conhecia um pessoal que estava organizando uma excursão para São Domingos, no nordeste goiano. O intuito da viagem era acampar e conhecer umas cavernas. Eu tinha um dinheirinho no bolso por conta do estágio que fazia e alguns dias de férias no mês de julho. Topei a viagem.

Clássico perrengue de excursão estudantil. Ônibus velho, galera animada bebendo vinho quente de garrafão, violão na roda, cigarrinhos engraçados passando de mão em mão. Naquele momento da vida, eu entendia isso como diversão. Passou. E tem gente que ainda acha que envelhecer é ruim.

Foram duas cavernas visitadas. Somente os espeleólogos tinham aquele capacete com lanterninha. Eles iluminam o caminho enquanto você se espreme no escuro por frestas inacreditavelmente estreitas. Não é lugar para claustrofóbicos. Não é o meu caso. Mas também não dá para falar que é divertido.

Uma experiência legal foi achar um lago interno na caverna e nadar um pouco naquela água de geladeira. Depois da suadeira da trilha, aquele banho foi revigorante para a volta.

Mas o momento mais marcante foi quando chegamos a uma espécie de salão de rochas. Pé-direito alto, espaço amplo. Um guia pediu para que todos deitássemos no chão. Quando todos estavam acomodados, eles apagaram as lanternas. O mais profundo breu tomou conta do ambiente. Você não enxerga nada. Nem a um centímetro de seu nariz. Deitados, começamos a sentir o vento dos morcegos passando rente aos nossos rostos. Dei a mão para minha namorada e disse: “esse trem aqui é meio doido, hein?”. Ela só riu.

Digo que não sou muito adepto da adrenalina. Prefiro a serotonina. Por isso que não me arrisco mais em cavernas. Hoje, boletos vencendo já são emoção além da conta.

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG.

Comente

X