No duelo derradeiro do Mundial da Rússia deu a lógica. A descansada França, pelo menos em relação a Croácia, rainha das prorrogações, sagrou-se bicampeã mundial.
Mas pra quem esperava um passeio das colônias africanas radicadas em Paris, se deparou com uma blitz eslava, que dominou completamente o primeiro tempo de partida. Sorte (ou seria, futebol?) da França que encontrou dois gols graças a uma infelicidade de Mario Mandzukic e do VAR.
O bravo Perisic ainda tentou manter os croatas na partida, mas as limitações começaram a aparecer.
Primeiramente, o fator Subasic. O goleiro estava jogando meia bomba desde as quartas de final com um problema na coxa, e nos gols franceses restou clara a falta de explosão na hora de fazer as defesas. Espertos os jogadores franceses, que usaram a abusaram dos chutes da intermediária.
Em um outro plano, conforme já dito, pelo fator físico que minou a Croácia no segundo tempo. Os contra-ataques começaram a se desenhar, e por ali os franceses se criaram.
Final digna de uma Copa do Mundo, com várias histórias e alternativas.
Mas a partida de ontem nunca vai se tratar apenas de futebol.
Esse esporte, por vezes, é um termômetro que mensura o mundo em que vivemos. Os interesses geopolíticos, a rota do petróleo, os desgastes diplomáticos, as guerras civis, o nacionalismo, o orgulho, o subterfúgio de um povo sofrido.
A final da 21ª Copa do Mundo colocou frente a frente duas nações que se orgulham de suas origens, mas que convivem com um dilema no mínimo curioso
De um lado a França, que encontra um movimento interno contrário a imigração (ué?), provavelmente com a mesma soberba que o ótimo goleiro Lloris teve ao entregar um gol a Mario Mandzukic. Afinal de contas são 14 os jogadores oriundos de outras etnias africanas.
De outro lado a Croácia, país de 26 anos de idade que tem apenas jogadores de origem eslava, que estavam espalhados em outros países da Europa. O movimento separatista que culminou em guerra foi sangrento, mas trouxe um sentimento nacionalista muito aflorado aos croatas, que inclusive de vez em quando passa do ponto. A afirmação como um novo país da colcha de retalhos do leste europeu traz um perigoso barril de pólvora extremista que entra em campo.
A Croácia já coleciona uma semifinal de Copa do Mundo e um vice-campeonato. Resultados expressivos, ainda mais vindos de uma nação com uma liga nacional tão fraca, sem resultados expressivos e sem planejamento, ainda mais após uma classificação na repescagem (A Croácia gosta de uma bacia das almas) com o técnico integrado apenas em outubro de 2017.
Nota para a escolha de Modric como melhor jogador da Copa do Mundo. Injusta, em minha opinião. A segunda fase da competição do croata foi cheia de altos e baixos.
A França colhe os frutos de uma geração muito talentosa, com, um Mbappe insinuante, um Pogba marrento, porem, eficiente. Um Griezmann decisivo.
Allez le Bleus. E viva a França.
E viva a África colonial.
E viva o povo eslavo.
E viva o mundo inteiro. Pois a copa está com a França, mas pertence ao Mundo.
E que venha o Catar.

João Paulo Daher
Advogado e cronista esportivo.