Você vê o cara exausto, depois de correr mais de 120 minutos, caminhar do meio de campo até a marca de pênalti. O goleiro também tem seu ritual particular. Pula socando o travessão, bate palmas, flexiona os joelhos e abre os braços. O jogador, concentrado, corre para a bola, chuta e…

Seria sadismo de minha parte achar divertido todo esse acentuado estresse alheio?

É claro que a disputa de pênaltis só me interessa quando não tem time para qual eu torça em campo. Desde a desclassificação da Seleção Brasileira em 1986 contra França, sofro com antecedência quando vejo um jogo de uma equipe para qual eu torça encaminhar-se para as penalidades máximas. O título de 1994 não apagou tal receio. E a derrota de 2010 do Goiás para o Independiente só reforçou meu pé atrás com a disputa que alguns chamam de loteria.

Mas, quando não tenho envolvimento emocional com quem está em campo, acho os pênaltis bem legais. Rússia e Espanha, Croácia e Dinamarca, Colômbia e Inglaterra são partidas que me divertiram consideravelmente. É claro que eu tinha minhas preferências. Torci para que Rússia e Colômbia ganhassem, mas nada assim muito intenso. Já a disputa entre croatas e dinamarqueses me soou indiferente para torcida. Mas a disputa com a bola na marca de cal garantiu o meu envolvimento.

Os dramas humanos estão todos ali presentes. Alguém vai sair como herói, normalmente um goleiro. Alguém vai sair arrasado, muitas vezes o craque do time. E você está no sofá, sem o coração saindo pela boca, só observando o tudo ou nada da rapaziada. Marquês de Sade ficaria orgulhoso de seu discípulo.

No jogo entre Bélgica e Japão, os orientais contavam com minha torcida. Mas, a partir do empate belga, eu queria ver prorrogação e pênaltis. O pior de assistir ao sensacional contra-ataque dos europeus culminando em gol nem foi a decepção nipônica, foi minha frustração de não poder me divertir com o martírio alheio.

Você deve estar me achando uma pessoa horrível. Compreendo. Mas empatia não é para quem gosta de futebol. Perder sempre é sofrido, independente da forma. Sei que a eliminação nos pênaltis pode machucar mais quem é derrotado. Dá aquela sensação de que foi por um triz. Como já disse, senti isso na pele e sei que dói. Mas não consigo me conter.

Imagine o quanto seria divertido uma disputa de penalidades entre França e Uruguai, por exemplo? Já tenho para quem torcer nesse jogo.

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