O Atlético Goianiense assinou mais uma página da reconstrução de sua autoestima no último sábado, em jogo válido pela 21ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série “B”. Não dá pra contar a história do Dragão sem falar da “Campininha”, o Setor Campinas, que inclusive em 1914 foi considerado município, posteriormente integrado como setor de nossa capital.
Mas a grande verdade é que o bairro nunca perdeu seus traços característicos. Os campineiros são extremamente “xenofóbicos” (na acepção mais simpática possível do termo) e tratam suas tradições com um carinho todo especial.
O Atlético saiu de um clube de portas fechadas para o fenômeno dos acessos tanto no Campeonato Goiano quanto nos campeonatos nacionais, a partir de 2005. O modelo de gestão que modernizou o Departamento de Futebol é simplesmente referência. Além disso, merece reverência.
O Estádio Antônio Accioly é o símbolo do resgate da casa de todos os moradores de Campinas. Curiosamente, a capacidade atual do estádio é exatamente a da população de seu bairro: pouco mais de 10 mil.
Mas não se engane que o belíssimo, porém acanhado estádio guarda um ambiente amistoso aos seus visitantes. Tradicionalmente hospitaleiros, os campineiros não costumam estender tapete vermelho aos adversários do Atlético.
E o Coritiba sentiu isso na pele.
Sete eram os desfalques da equipe goiana. Não é um problema pra quem passou por tantas histórias de superação em tão pouco tempo. Sem Junior Brandão, a equipe jogou com o jovem Denilson na posição. O Atlético teria que ser cirúrgico contra o oscilante Coritiba, que apesar de ter um elenco com boas opções de variação de jogo, é refém
da falta de autoestima, virtude que não falta aos campineiros. Mesmo na estreia do meia Carlos Eduardo, poucos foram os momentos de inspiração.
Sete também foram os esdrúxulos acréscimos no segundo tempo, incompreensíveis diante das paradas que se apresentaram. Tamanho tempo extra só de justificaria se fosse para aumentar o espetáculo que a torcida apaixonada proporcionou. Tal incoerência já custou ao Atlético a vitória diante do Criciúma, em Santa Catarina.
Do outro lado, um time com brio que estava decidido a brindar sua torcida no debute do novo estádio, vestido com as cores rubro-negras características. A emoção era notória nos olhos marejados de cada presente. A equipe fez um gol logo no começo do jogo dom Renato Kayser. Controlou o resto da partida. Pouca inspiração. Muita emoção. Pouca jogadas de efeito, mas muitos efeitos do coração.
O Setor Campinas pode gritar independência novamente aos quatro cantos, sem temor algum. O estádio Antônio Accioly, castelo do reinado da Campininha, agora tem como Adson Batista o seu chanceler, ao lado do general Tencati. Os comandados do exército rubro-negro marcham rumo à Série “A”.
A partir de agora, os adversários terão mais problemas em enfrentar o Atlético dentro de seus domínios.
E disso não há dúvida, afinal de contas, lá quem manda é o Dragão.

João Paulo Daher
Advogado e cronista esportivo.