A convite da empreendedora goiana Alline Jajah, fiquei muito feliz com a oportunidade de poder dividir experiências e histórias com vocês aqui nesse portal, também natural da minha cidade natal que amo de paixão!

Pretendo trazer pra vocês um pouco sobre empreedorismo social pelo mundo, com foco em ações que estão transformando não só a forma como nos relacionamos com tudo a nossa volta, mas também ideias que, além de questionar o status quo, nos leva a expandir nosso senso de propósito.

É válido definirmos empreenderismo social, quando tudo é social e todos são empreendedores: de si mesmos, de seus sonhos, de suas histórias. Na geração de nossos pais (e mães) as preocupações eram outras e o sentido da vida em sociedade era muito mais simples; só era preciso nascer, estudar (para aqueles que podiam), ter filhos, e uma profissão pré-determinada pelo mercado já existente.

Entretanto, a vida deixou de ser pré-determinda.

Hoje em dia, estudar não mais garante uma carreira em um mercado volátil que, como diz Jajah, ‘muda a milésimos por segundo’. Ter filhos deixou de ser prioridade para as mulheres e o mundo deixou de ser analógico.

O empreendedorismo social nasceu em busca de alternativas para as necessidades sociais que o Estado  – e o mercado – não conseguem atender como crises ambientais e humanitárias, a pobreza crônica, falta de infraestrutura e acesso a serviços como saneamento básico, eletricidade, internet. Assim como educacionais e de desenvolvimento humano.

De origen francesa, a palavra empreendedorismo significa fazer algo novo. Mas no empreendedorismo social a missão suprema é a geração de valores que beneficiam a comunidade ao invés do acúmulo individual, como se aprendia nas aulas de economia clássica.

Os empreendedores sociais já caminham pelo mundo há muitas gerações, incluindo o Brasil. A gente ainda vai falar de muitos por aqui. Mas foi só há poucos anos que ‘o bem comum’ se tornou: grade curricular, temas e títulos de foruns mundiais como o Forum Econômico Mundial, pré-requisito para altos cargos em organizações inovadoras e principalmente o propósito de vida de muitas pessoas que não querem mais acumular apenas para si.

Vivemos um período onde o desejo de gerar valores sociais está se manifestando cada vez mais nas nossas estruturas, principalmente as privadas.

Com isso, grandes empresas como Google, PWC, Apple, entre tantas outras pequenas e médias, estão transformando sua estrutura de liderança. Até porque profissionais de qualidade deixaram de ser medidos pelo nível de produção. Produção é feito por máquinas. O capital humano de maior valor é a criatividade, pois é ela quem cria soluções para problemas mais complexos.

Mas não é só isso. Uma recente pesquisa feita pela Deloitte, Deloitte Human Capital Trends 2018, entitulada ‘A ascensão da empresa social’ mostra que 77% das maiores empresas (privadas) do mundo tem em seus pilares a cidadania e o impacto social como prioridade, embora isso ainda não esteja sendo atingido, reconhecem os entrevistados.

Com isso, a ‘revolução de dentro pra fora’ (termo que criei para este fenômeno) toma forma em empresas de estrutura privada (lucro individual) devido à lógica do empreendedorismo social (geração de valor comunitário).

Se você está repensando sua estrutura de negócios ou quer fundar um projeto / negócio social, veja algumas das principais transforções apontadas pelo estudo:

  • Do acúmulo a distribuição – é preciso ir além do lucro apenas para uma compreensão sistêmica, que opera em um ecossistema, onde todas as relações são igualmente importantes. Isso garante a retenção de colaboradores mais motivados.
  • A hierarquia se dissolve – as organizações estão deixando de operar com hierarquias verticais (chefe) e usando modelos de “rede de equipes” (círculos onde todos possuem voz).
  • O valor agora é social – os clientes internos e externos agora querem fazer negócios com empresas, e indivíduos, que fazem coisas boas na comunidade. Isso vai muito além da “responsabilidade corporativa social” que vai ser obsoleta em poucos anos.
  • Líderes acessíveis – antigamente, era preciso marcar com antecedência uma reunião com os Cs: CEOs, CFOs, COOs. Agora é ao contrário. Os Cs caminham pelos times, criando relações humanas com seus colaboradores.
  • Fim do plano de carreira – lembra quando a gente fazia o plano de carreira com o gerente? Isso não existe mais. Agora, os colaboradores são incentivados a apresentar suas ideias de forma orgânica, em ambientes livres de julgamentos. E assim sendo, soluções são achadas de dentro para fora.

E o que tudo isso tem haver com empreendedorismo social?

Se empreender é criar algo novo, a lógica do empreendedorismo social se preocupa em manter os valores coletivos. Essa lógica está revolucionando, de dentro para fora, não só por criar projetos sociais que geram lucros mais que financeiros. Mas também a forma como todos nós fazemos negócios e nos relacionamos com o mundo. As pessoas estão mais conscientes dos problemas do mundo e querem lidar com pessoas e organizações que possuem valores similares.

Vital para o mundo, é não segmentarmos a criação de valores sociais pois empresas privadas também tem o poder de criar transformações sociais positivas, que podem beneficiar uma comunidade inteira.

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Giselle Barboza é Empreendora Social, fundadora do projeto @eyesofthestreet_ e Diretora Criativa em Londres, especialista em soluções criativas para projetos e negócios, graduada em Antropologia e Mídia pela Universidade de Londres.

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