Talvez a coisa que eu mais tenha exercitado nesse período de férias na gringa foi pagar de Joãozinho. Deixe-me lhe explicar o que isso significa. Trata-se de quando você fica perdido e não sabe muito bem o que fazer em determinada situação. A pessoa lhe explica, você acha que entendeu e vai fazer o que precisa ser feito. O seu interlocutor percebe que você não entendeu e, educadamente ou não, mais uma vez lhe orienta. E você, é claro, faz errado de novo. Isso é pagar de Joãozinho.
Nesse exato momento enquanto escrevo esse texto, paguei de Joãozinho pesado. Estou no aeroporto em uma longa espera por uma conexão para casa. É claro que aproveito o tempo para jogar essas ideias tortas que você, alma caridosa, lê. O restaurante no qual sentei é desses metidos a modernetes. Coisa de americano. O cardápio é um IPad que fica estacionado na sua frente em cima da mesa. Ao lado, uma maquininha para passar o cartão de crédito. Ou seja, seu único contato com o garçom se dá quando ele traz o pedido.
Pedi uma garrafa de vinho. Passei o cartão e até chegou a mensagem no meu celular confirmando o pagamento. Esperei trinta minutos e nada de vir minha bebida. Chamei a garçonete. Ela abriu uma aba do IPad que brilha na minha fuça e, com dois cliques, confirmou o pedido que eu ainda não havia concluído. Fiquei com aquela cara… Totalmente Joãozinho.
Isso se deve um tanto a minha não fluência no inglês. E outro tanto à minha sonseira nata. Sou um cara que aprecia o método e a rotina. Gosto de saber a sequência das coisas. Uma passo depois do outro. Quando as coisa mudam, me sinto sem norte. Quando as coisas mudam em outro idioma, é claro que isso piora.
Paguei de Joãozinho pegando metrô, paguei de Joãozinho entrando no museu, paguei de Joãozinho comprando cerveja no show. Se fizermos uma média, acho que deu um Joãozinho a cada três horas.
Mas não posso reclamar. A gente tira férias e viaja é pra isso mesmo: tirar onda de Joãozinho, bater umas fotos e ficar cheio de vontade de voltar pro próprio travesseiro. Cumpri essa pauta. Segundona, estou de volta com o dedinho indicador no ponto da firma. Cheio de sono e uma xícara gigante de café nas mãos.
Ficar pagando de Joãozinho em série, só no ano que vem.