Ver um show de uma banda gigante na gringa. Esse sonho adolescente, de quando eu ainda era um moleque imberbe assistindo MTV tardes afora, sempre esteve comigo. Ontem, finalmente, tive a oportunidade de realizá-lo. Fui ao Wells Fargo Center na Filadélfia assistir ao Radiohead.

Trata-se da mesma turnê que passou pelo Brasil há alguns meses. Na época, ao menos em minha bolha metida a alternativa, pipocaram no Instagram vídeos de Thom Yorke e companhia no palco. Ontem foi minha vez de de compartilhar alguns.

Preciso falar um pouco de minha relação com o Radiohead. Para mim, eles têm somente um álbum magistral: OK Computer. Esse disco é perfeito da primeira à última faixa. Ouvi o CD até furar. Mais de década depois, comprei o vinil duplo fodão.

Dois discos são bons: Pablo Honey e The Bends. Um, passa: Kid A. O restante, ao menos na minha avaliação, é intragável. Vocalizações que não vão pra lugar nenhum, música eletrônica cabeçuda que não vai pra lugar nenhum, ruídos irritantes que não vão pra lugar nenhum.

O show é uma mistura dos oito álbuns de estúdio da banda, com predominância do último lançado em 2016, A Moon Shaped Pool. Já que estou longe de ser um fã de carteirinha dos caras de Oxford e eles tocam poucas músicas que realmente gosto, fiquei observando a experiência de assistir a um show no exterior. Mais do que a performance da banda.

O maior ponto de destaque é o conforto. Estacionamento sem perrengue, barraquinha de merchandising com tudo o que você imaginar da banda, múltiplas opções de rango, cardápio farto de bebidas. Só para dar uma ideia, experimentei quatro tipos diferentes de Ipa antes do show. Em chope e em lata. Cada estande trabalha com suas carta de bebidas. Logo, se você quiser um tinto Merlot, tem. Um bourbon, tem. Café descafeinado, tem.

Se o cardápio farto é um sonho, ficar bêbado é difícil. Quando a banda principal toca o primeiro acorde, todas barracas cerram as portas. Você ainda consegue comprar alguma coisa na base da conversa até a terceira música. Daí pra frente, já era. Fui comprar uma cerveja na segunda música. Quando vi que estava tudo fechando, garanti um latão de Ipa e bebi com moderação até o primeiro bis. Em tempos de racionamento, prudência no consumo.

O público é bem mais frio que no Brasil. Pouca euforia, pouca excitação. É evidente que até mesmo na nossa terra o fã de Radiohead tem uma postura mais comedida. Estar na pista de uma apresentação dos caras é bem diferente do gargarejo de um show do Motorhead. Mesmo com essa contextualização, o público norte-americano é bem mais comportado. Se limita a palmas e a alguns gritinhos entre as músicas. O ambiente lembra mais um teatro do que um show de rock. E isso faz sim diferença na ambientação geral do evento.

Terminado o show, com uma fome desgraçada, comemos uns Pringles que estavam largados no carro e fomos para o hotel. Afinal de contas, não vendia mais rango no espaço desde o início do show…

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