Quatro bandas famosas por levar o coco a todo o país vêm de diferentes partes do Nordeste para apresentações gratuitas em Goiás nas unidades do Sesc espalhadas pelo Estado. Os shows de Coco de Iguape (CE), Coco de Zambê (RN), Samba de Pareia da Mussuca (SE) e Coco de Tebei (PE) integram o projeto Sonora Brasil, que oferece ao público expressões musicais pouco difundidas, mas muito relevantes no amplo cenário musical brasileiro. Esta é a sua 21ª edição e neste ano o tema é Na pisada dos cocos.

“Com mais de duas décadas de existência, o Sonora Brasil é fundamental para valorizar identidades musicais genuinamente brasileiras e incentivar a formação de público, despertando um olhar crítico e valorizando nossa riqueza cultural”, ressalta o diretor regional do Sesc Goiás, Leopoldo Veiga Jardim.

Além da região Centro-Oeste, os grupos estão circulando por estados das regiões Sul e Sudeste. Já o Norte e Nordeste recebem o tema “Bandas musicais: formações e repertórios”, que esteve por aqui ano passado. Considerado o maior projeto de circulação musical do país, com aproximadamente 5.726 apresentações em mais de 150 cidades para cerca de 600 mil espectadores, o Sonora busca despertar um olhar crítico sobre a produção e os mecanismos de difusão da música no país.

Na pisada dos cocos

Coco de roda, samba de coco, coco de zambê, coco de pareia, coco furado, coco de embolada… São muitas as variantes que retratam a denominação “cocos”, sempre no plural. “Na pisada dos cocos” apresenta variantes desta expressão típica da região Nordeste do Brasil, razendo dois grupos que praticam cocos do litoral e outros dois do interior.

Cocos são práticas coletivas que envolvem, na maioria das vezes, grupos mistos, formados por homens e mulheres, que são encontrados em áreas urbanas e na zona rural, inclusive em aldeias indígenas e comunidades quilombolas, onde a dança e a música, integradas, estão muito presentes. Cantadores e dançadores, como são chamados, são acompanhados por instrumentos de percussão ou pela batida dos pés, que marcam o andamento, simulando a pisada que prepara o chão batido, atividade muito praticada nos mutirões a qual se atribui essa característica da dança.

Confira a programação completa, com locais e horários das apresentações em Goiás:

Coco de Iguape (CE)

7/08 – Teatro Sesc Centro – Goiânia

8/08 – Sesc Anápolis

10/08 – Sesc Jataí

Coco de Zambê (RN)

8/08 – Teatro Sesc Centro – Goiânia

9/08 – Sesc Anápolis

11/08 – Sesc Jataí

Samba de Pareia da Mussuca (SE)

9/08 – Teatro Sesc Centro – Goiânia

10/08 – Sesc Anápolis

12/08 – Sesc Jataí

Coco de Tebei (PE)

10/08 – Teatro Sesc Centro – Goiânia

11/08 – Sesc Anápolis

13/08 – Sesc Jataí

COCO DE IGUAPE (CE)   

Apresentações às 20h

07/08 – Goiânia (GO) – Teatro Sesc Centro

08/08 –  Anápolis (GO) – Sesc Anápolis

10/08 – Jataí (GO) – Sesc Jataí

Aquiraz fica a 30 km de Fortaleza, no litoral cearense, e a Praia do Iguape é onde moram os integrantes do grupo. Eles praticam a pesca artesanal e são liderados pelos mestres Raimundo da Costa, que desde os dez anos pratica o coco de embolada, e Chico Caçuêra.

O Coco do Iguape tem uma característica peculiar: o andamento mais acelerado e uma dança mais “pulada”. O grupo se apresenta descalço, como os pescadores costumam andar. A vestimenta é feita artesanalmente, com o mesmo tecido usado nas velas das jangadas, e tingida com a tinta retirada da casca do cajueiro azedo.

A música mantém a estrutura de refrão fixo, apresentado pelo mestre e cantado pelos brincantes, e estrofes emboladas pelos mestres, algumas criadas na hora. A dança acontece em pares, um de cada vez no meio da roda, com trocas constantes marcadas pelo convite feito com o gesto da umbigada.  Apesar da prevalência de homens, não há restrições à participação das mulheres.

Os instrumentos utilizados pelo grupo são o caixão (espécie de cajón), feito de madeira em forma de caixa, permitindo que o tocador fique sentado sobre o instrumento, e o ganzá, espécie de chocalho feito com latas reutilizadas, ambos fabricados pelos próprios integrantes. O triângulo, pouco encontrado em grupos de coco, foi inserido a partir de influências externas.

O grupo é formado por Mestre Chico Caçoeira (Francisco Renato das Chagas), Klévia do Iguape (Klévia Cardoso da Silva), Renato Cabral, Wellington Monteiro, Gatinho (João Anastácio de Carvalho), Caboquim (José Ailton da Costa Miranda), Altamiro da Costa e Adonai Ribeiro.

COCO DE ZAMBÊ (RN)

Apresentações às 20h

08/08 – Goiânia (GO) – Teatro Sesc Centro

09/08 – Anápolis (GO) – Sesc Anápolis

11/08 – Jataí (GO) – Sesc Jataí

É principalmente no município de Tibau do Sul, litoral do Rio Grande do Norte, que encontramos o Coco de Zambê, expressão cultural que chegou aos engenhos de cana-de-açúcar e colônias pesqueiras da região por meio de africanos escravizados.

Há notícias de sua existência desde 1903, quando foi publicada no jornal A República a notícia cujo conteúdo repudiava com veemência a prática de um “samba” que acontecia na casa de um sujeito conhecido como Paulo Africano, no município de Tibau do Sul.

O Coco de Zambê correu o risco de desaparecer, mesmo tendo se constituído durante décadas como importante elemento identitário de comunidades quilombolas da região. Seu ressurgimento ocorreu no final do século XX a partir da iniciativa de pessoas determinadas como Mestre Geraldo Cosme.

Dois tambores estão presentes na maioria dos grupos que praticam o Coco de Zambê: o próprio zambê, também conhecido como pau-furado ou oco de pau, que é maior e mais grave, e o Chama, ambos construídos artesanalmente com troncos de árvores da região.

A música caracteriza-se como um canto responsorial, puxado pelo mestre e respondido pelo coro de vozes, e a dança acontece numa roda que mantém ao centro os tocadores.  É praticado apenas por homens.

O grupo é formado por Didi (Djalma Cosme da Silva), Uzinho (Severino de Barros), Tonho (Antonio Cosme de Barros), Mestre Mião (Damião Cosme de Barros), Zé Cosme (José Cosme Neto), Kéké (Ckebesson da Silva), Pepé (Ederlan da Silva), Beto (José Humberto Filho de Oliveira).

SAMBA DE PAREIA DA MUSSUCA (SE)

Apresentações às 20h

09/08 – Goiânia (GO) – Teatro Sesc Centro

10/08 – Anápolis (GO) – Sesc Anápolis12/08 – Jataí (GO) – Sesc Jataí

O Povoado de Mussuca fica no município de Laranjeiras, a 23 km de Aracaju, capital do estado de Sergipe. É uma comunidade de remanescentes quilombolas que se empenha para manter as tradições herdadas de seus antepassados, como a Dança de São Gonçalo e o Samba de Pareia.

O Samba de Pareia, segundo relatos, surgiu há mais de 300 anos entre os escravos que trabalhavam nos canaviais como uma forma de ocupar o pouco tempo de descanso que tinham ao longo de sua jornada diária. O nome viria do fato de ser dançado em pares. Hoje, na Mussuca, ele é dançado por mulheres, contando com a presença de homens apenas como tocadores que sustentam o ritmo com dois tambores médio-graves e uma porca (cuíca). Completa a instrumentação um ganzá, tocado por uma das mulheres, e, o principal elemento rítmico, a pisada dos tamancos das dançadeiras.

Uma peculiaridade dessa manifestação cultural é o fato de estar relacionada a um ritual de nascimento que vem dos antepassados, no qual o grupo se apresenta para manifestar a alegria pela chegada de mais uma criança no povoado, dando-lhe as boas-vindas no seu décimo quinto dia de vida.

O grupo é liderado por uma mestra, Dona Nadir, o que é raro nos grupos de tradição, em que as funções de liderança normalmente cabem aos homens, e conta também com a participação de Mangueira (Acrisio dos Santos), Carmélia dos Santos, Elenilde da Silva, Maria Edenia dos Santos, Maria Ednilde dos Santos, Cecé (Maria José dos Santos), Maria Lucia Santos, Maria Luiza dos Santos, Maria José dos Santos e Normália dos Santos.

COCO DE TEBEI (PE)

Apresentações às 20h

10/08 – Goiânia (GO) – Teatro Sesc Centro

11/08 – Anápolis (GO) – Sesc Anápolis

13/08 – Jataí (GO) – Sesc Jataí

Esse coco é praticado por um grupo de agricultores e tecelões da comunidade Olho D’Agua do Bruno, na cidade de Tacaratu, em Pernambuco, localizada na região do Médio São Francisco, próximo à divisa com Bahia e Alagoas. A paisagem local é típica do sertão nordestino: terra seca, casas esparsas e muito precárias, mandacaru e alguma criação animal.

As irmãs Maria Araújo, Maria Feitosa, Antônia Germana e Maria do Carmo contam que a prática do Coco de Tebei vem de gerações passadas que ajudaram a cultivar essa tradição. Em suas memórias a dança do coco está associada à construção de casas de taipa, quando as famílias se reuniam em adjutório para “taipar” uma nova casa. Nessa época ainda não usavam a expressão “tebei”, a dança era identificada como coco de roda.

O Coco de Tebei é cantado por mulheres e dançado por casais. Não utiliza instrumentos, e a base rítmica é marcada pela pisada dos dançadores. A sonoridade que resulta do canto somado ao ritmo da pisada nos remete, de certa forma, a uma ritualística indígena, que se caracteriza pelo contraste de timbre entre o metal das vozes femininas e o som seco da pisada no chão, além da ausência de nuances em cada um dos elementos.

O grupo é formado pelas cantadeiras Maria do Carmo de Jesus, Nivalda Rosa Gomes do Nascimento e Maria Nazaré Nunes dos Santos e pelos dançadores José Lira dos Santos e Janaína Maria dos Santos, Edna Nivalda do Nascimento Silva e Agnaldo José da Silva, Genivaldo Lira dos Santos e Edilane dos Santos.

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