Sexta-feira. Dia de programar as baladas do final de semana. Agilizar uns contatinhos. Mandar vários “oi, sumida” nas redes sociais. Soar simpático. Marcar alguns lances. E torcer para que o rolê termine lá pelos lados da BR-153.

Sei bem como são essas coisas. Já fui desses.

Em tempos anteriores aos aplicativos de encontro que, de forma bem-vinda, atalham processos, criar contextos era essencial para uma noite sexualmente bem-sucedida. Marcar um cinema, seguir para jantar, engatar um bom papo… Vocês sabem do que estou falando.

Mas os anos passam e os focos mudam. Minha sexta-feira agora é diferente. A expectativa pelos dias de folga se dá por outro motivo.

Quando pego o jornal logo cedo ao chegar no trabalho, vou direto para o encarte do supermercado. Vejo o que está na promoção. Começo a bolar receitas. Planejo os almoços de sábado e domingo e suas possíveis harmonizações. Tinto ou branco? Ipa ou dubbel? Qual sobremesa? Só de escrever, já começo a salivar.

Tanto hoje quanto outrora, a grande expectativa da sexta-feira estava envolta do comer. O que mudou foi a compreensão do verbo em questão: atualmente ela é literal.

Cazuza dizia que os velhos perdem a esperança com seus bichinhos de estimação e plantas. Não sou desse time. Desde criança gosto de animais e minha casa sempre pareceu uma Amazônia de tantas flores e samambaias espalhadas por tudo quanto é cantoO que marca meu caminho inexorável para a senilidade é o interesse gradativo pela cozinha.

Nas últimas férias, quando me vi cogitando comprar panelas especiais no outlet, percebi que eu não tinha mais salvação. E como sinto prazer nesse novo momento…

A sensação de independência e autossuficiência quando se come um prato que você mesmo fez é indescritível. Quando ele fica gostoso pra cacete, um orgulho aflora. Quando toda mesa elogia o seu feito e repete a dose, o prazer beira o orgástico. Só quem queima a mão no fogão entende o que estou falando.

E é claro que nesse final de semana não será diferente. Já sei o que farei no sábado e domingo. Tudo com alguma fartura, para sobrar na geladeira e servir de almoço na segunda e terça-feira. Aproveito o tempo gasto na cozinha e garanto um rango melhorzinho para a semana proletária. Já com água na boca pelo próximo final de semana.

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