Nando Reis. De graça. Domingo fim de tarde. Parque Flamboyant.

Sem dúvida, trata-se de uma sequência de excelentes argumentos para me tirar de casa. Mas não foi o que aconteceu. Preferi ficar com uma boa garrafa e um belo livro na varanda de casa. Enquanto isso, o artista tocava músicas que amo a alguns quilômetros de onde eu estava. Queria ter visto, mas não me doeu perder o show.

Para encarar esse tipo de evento, a pessoa deve pertencer a ao menos um desses dois grupos: dos jovens ou dos de espírito jovem. Só esses conseguem enxergar diversão no perrengue. Há pelo menos 20 anos que estou fora das duas categorias. E me orgulho disso.

Desde quando foi divulgado o show de Nando Reis, inciamos um debate em casa sobre ir ou não à apresentação. O cenário estava favorável para comparecermos. Além de tudo que falei no primeiro parágrafo, por coincidência, minha mulher não trabalharia de plantão naquele dia. Eu também não tinha nada profissional agendado. Por que não ir?

Por preguiça. Preguiça de procurar estacionamento, preguiça da tarifa extra dos aplicativos, preguiça de ficar longe do banheiro em prováveis insalubres condições de uso, preguiça de ver o show de longe, preguiça de sair de casa no domingo com a segunda-feira opressiva pintando no horizonte. Coisa de gente senil.

Independente de minha ausência, é preciso louvar a iniciativa do Sesc. Os organizadores falam em 35 mil pessoas presentes. Acho o número superestimado. Deixando de lado a precisão do levantamento, muita gente que foi ao Parque Flamboyant. Fato. As fotos aéreas mostram isso. E, até onde se sabe, sem maiores complicações, exceto às previsíveis e compreensíveis dificuldades de tráfego.

A maciça presença do público comprova que Goiânia tem uma demanda reprimida para esse tipo de evento. As pessoas querem boas atividades culturais em espaços públicos. Bola dentro total do Sesc. Agora, é necessário também inserir o artista goiano na grade. Poderíamos ter dois ou três nomes abrindo o show de Nando Reis. Fundamental também é sair da área nobre da cidade. Goiânia tem parques espalhados por vários bairros. Todos carentes de ocupação cultural.

Detalhes menores que certamente serão observados para as próximas edições. Quem sabe, minha preguiça mastodôntica dê um tempo e eu pinte por lá para curtir um som. Só não interprete isso como uma promessa, viu?

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG.

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