Se você me acompanha aqui nos textos do OQueRola, já deve ter percebido que essa eleição está me preocupando. Não que os pleitos passados não tivessem me motivado a escrever vários e vários artigos. Muito pelo contrário. Mas agora é diferente. O que deixa o ano de 2018 singular é que tudo está mais sensível. O flerte com o abismo está muito mais explícito.
Eu acordo e já pego o celular. Hoje, as notícias chegam até você pelo WhatsApp. A tensão que a música do plantão da Rede Globo se transformou. Atualmente, o coração dispara quando vemos a notificação de mensagem de certos grupos. Já sabemos que é treta. Quando, ainda na cama, espreguiçando e bocejando, vejo que desses grupos não chegou nada, bate um alívio.
Ainda no travesseiro babado, entro nos principais portais de notícia para ver as manchetes. Ufa! Nada excepcional aconteceu enquanto eu repousava. Segue o jogo e vamos cuidar da vida.
O brasileiro nunca pensou muito no futuro. Não há espaço para planejamentos de longo prazo. Como programar o amanhã quando a imensa maioria sequer sabe o que almoçará no dia? Matar o leão que está mais perto é sinal de sabedoria. E sabemos fazer isso como ninguém. O problema é que esse imediatismo está nos levando a passos largos para um não amanhã.
Nunca prezamos muito pela reflexão, pela temperança. A rede social só exacerbou essa característica. E deu mais amplitude. Hoje, muito mais gente tem acesso a um impropério de um momento de fúria. A pessoa sai vomitando o seu pior sem constrangimento, como normalmente fazemos de cabeça quente. E isso ganha curtidas, comentários e compartilhamentos. A vaidade cresce. O comportamento boquirroto se torna padrão.
Quem não consegue reverberar em sua página pessoal, procura audiência na de quem tem. Por conta de meus trabalhos, acabo tendo muitos seguidores nas redes sociais. Os caras que se posicionam de forma mais truculenta em meus posts são os mais irrelevantes. Quando entro no perfil deles, vejo que nada do que dizem reverbera. Escrevem textos e textos, mas não conseguem mais que três ou quatro curtidas. Isso os mata. Por isso a virulência aparece no palco alheio. Preciso estabelecer um mínimo para deixar asneira na minha página. Xingamentos não aceito. Bloqueio na hora.
E assim, limitando a boçalidade pelo critério da civilidade, vou na minha sina Sísifo de tentar mostrar que podemos afundar ainda mais na barbárie. Por pior que esteja a situação atual, ainda existe Brasil. Não sabemos até quando, é verdade. Mas com o ódio que hoje prevalece, seguimos como um dependente químico: só por hoje, só por hoje…