Trabalhei até tarde da noite na cobertura das eleições no último domingo. Saí do estúdio da Rádio Interativa quase 22h30. Ficar mais de cinco horas no ar desgasta. Fui embora cansado, quando já sabíamos todos vencedores, perdedores e quem disputaria o segundo turno Brasil afora.

No trajeto de meu trabalho para casa, um comitê político foi montado no início da campanha eleitoral. Acompanhei diariamente sua existência. Do início tímido, do crescente a medida em que o dia da eleição se aproximava, do fim melancólico após a abertura das urnas e a verificação do fracasso eleitoral. Nascer, crescer, morrer. Como a vida.

O comitê era de um candidato de grupo político tradicional de Goiás. Apresentava-se como renovação, mas carregava consigo o peso do passado. Novidade e tradição no mesmo produto. Como um xampu e condicionador daqueles dois em um. Que normalmente nem limpa direito e nem deixa seus cabelos sedosos o suficiente. Não corresponde bem em nada do que se propõe. Tipo um pato – nada, anda e voa, tudo meio capenga. Nas eleições de 2018, ficou claro que ter vínculos com tradições políticas foi percebido como defeito. É nosso ethos do momento.

Domingo de noite, o sinaleiro fechou quando eu estava na porta do comitê. O clima era de fim de festa. Somente uma luz acesa ao fundo com meia dúzia de gatos pingados sentados. Todos cabisbaixos. Somente um militante, com vários adesivos colados na camisa, estava na calçada onde antes tinha muita gente panfletando. O cara fumava e olhava o celular, Pouquíssimos carros adesivados na porta, santinhos sujavam o chão. Não sei se o candidato estava também ali. Talvez seja pedir demais para o cara velar o próprio sonho.

Terça-feira, teve início a desmontagem do espaço. Novamente, uma mudança melancólica. Existem mudanças envoltas de felicidade. Eu me mudei pouquíssimas vezes de casa. Todas foram alegres. Quando me casei. Quando compramos nosso apartamento. Quando fomos para a casa dos nossos sonhos na qual moramos hoje. O trabalho da mudança tinha um fim prazeroso.

Não foi isso que notei nos que carregavam as coisas do comitê. O amargo gosto da derrota embebia a retirada dos móveis. O orçamento deveria estar escasso, pois quem fazia a mudança do comitê não era uma equipe profissional. Eles se pareciam mais com militantes do candidato. Talvez até mesmo familiares. O que só acentua a dor da derrota. Do projeto que não vingou.

O luto deve durar alguns dias. Talvez meses. Mas é provável que esse mesmo candidato esteja pedindo seu voto outra vez em 2020, para vereador de Goiânia. Parece que a política vira um vício para quem se candidata. E não há racionalidade alguma nas decisões de um viciado.

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