Parece que 2018 não vai terminar. Assim como 2013 ainda não terminou. Todos os protestos que inundaram as ruas em junho daquele ano ainda reverberam. O contra tudo e contra todos de cinco anos atrás permanece dando as cartas na percepção política do brasileiro médio.
As eleições que têm o segundo turno no domingo ainda vão pautar o debate público nos próximos anos. Desde 2014, sabemos que o terceiro turno pode sim ser bem-sucedido. Michel Temer só ocupa a principal cadeira do país por conta do terceiro turno. O lado derrotado nas urnas, pode anotar, fará uso desse mesmo expediente.
Como jornalista, estarei na oposição. Onde sempre estive desde que comecei a atuar, no ano 2000. “Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”. Millôr Fernandes disse. Eu carrego como lema de vida. Para aplausos, os governantes já têm seu séquito de puxa-sacos. Jornalista que topa esse papel tem que trocar de profissão.
Caso concorde, caro leitor, com essa premissa de Millôr, você já sabe: precisamos estar prontos. A resistência será necessária. As barricadas devem estar armadas para segurar quem pretende tratorar vozes dissonantes. Resiliência, meu caro, resiliência.
Quem vencer no domingo vai enfrentar oposição pesada desde o primeiro dia de governo. A margem de diferença entre os dois candidatos vem diminuindo, conforme apontam as pesquisas. A tendência de vitória de Jair Bolsonaro permanece, mas com percentual menos expressivo do que se desenhava há uma semana.
O capitão desejava vencer com uma margem folgada. Além de acariciar o ego, o sonho era ultrapassar os 61,27% dos votos válidos que Lula teve em 2002 contra José Serra. Esse percentual é o recorde de todas eleições disputadas em segundo turno.
Daria moral para tocar sua pauta de governo. Daria discurso para trabalhar o seu próprio “nunca na história desse país”. Daria motivos para mil memes para compartilhar no WhatsApp. Mas parece que a coisa mudou.
Vencer com margem menor de votos obriga o futuro presidente a abrir o leque de negociações. Garantir a tal da governabilidade. A vitória apertadinha de Dilma Roussef somado ao terceiro turno e o estelionato eleitoral deu em Temer presidente. Como político de quase três décadas de mandato, Bolsonaro sabe disso.
Caso sua vitória se confirme na noite de domingo, a estratégia para não ser o terceiro presidente eleito desde a redemocratização a não terminar o mandato já está na mesa.