A Pré-Seletiva para o Prix de Lausanne, realizada pelo Conselho Brasileiro da Dança (CBDD) e produzida pelo Studio Dançarte, das irmãs Ariadna e Gisela Vaz, terminou neste domingo (30), depois de dois dias de programação voltada para bailarinos e o público em geral, no Teatro Rio Vermelho, em Goiânia. Ao final da seleção, que aconteceu pela primeira vez no Brasil, três bailarinos foram escolhidos para disputar o 47º Prix de Lausanne, na Suíça, de 03 a 10 de fevereiro de 2019.

Realizada anualmente desde 1973 pela Fondation en Faveur de l’Art Chorégraphique, a competição suíça tem como principais prêmios bolsas de estudos e de estágio em algumas das melhores escolas e companhias de dança do mundo, como The Royal Ballet, da Inglaterra, American Ballet Theatre, dos Estados Unidos, e Stuttgart Ballet, da Alemanha. A Pré-Seletiva para o Prix de Lausanne reuniu, em Goiânia, 44 bailarinos de países como Argentina, Brasil, México e Austrália, nascidos entre 9 de fevereiro de 2000 e 9 de fevereiro de 2004.

Desses, dez passaram para a final da seleção, que aconteceu no domingo (30), com entrada gratuita para o público. Ao término da seletiva, três bailarinos foram escolhidos para viajar para a competição suíça, com todas as despesas pagas. A Fondation en Faveur de l’Art Chorégraphique arcará com os gastos de dois participantes e a loja de artigos de dança Só Dança ficará responsável por custear as despesas do terceiro escolhido.

Os bailarinos que foram escolhidos na Pré-Seletiva para o Prix de Lausanne foram Paloma Ramirez Azambuja, da Argentina, João Vitor Percílio da Silva, de Minas Gerais, e Alice Balboni, de São Paulo, todos com 15 anos. Todos os participantes apresentaram um solo de contemporâneo e um solo de ballet clássico e foram avaliados por grandes profissionais da dança reconhecidos internacionalmente, como Kathryn Bradney, dos Estados Unidos, que é a atual diretora artística e executiva do Prix de Lausanne, e Igor Piovano, da Itália, que é gerente de produção do Prix de Lausanne.

Os dois fundaram a Academia de Dança e Companhia de Dança Igokat, na Suíça. A presidente do Conselho Brasileiro da Dança, Gisela Vaz, que é pós-graduada como maÎtre de ballet no New York Dance Institute e na Escuela Nacional de Ballet de Cuba, também fez parte do júri da seleção. Outra convidada foi a argentina Lidia Segni, que foi diretora da Companhia Permanente de Ballet do Teatro Colón, da Argentina, e membro do júri do Prix de Lausanne em 2015.

A coordenadora do Departamento de Ballet Clássico do Opus Ballet, da Itália, Claudia Zaccari, que foi primeira bailarina do Teatro de Ópera de Roma, completou a lista de jurados da seletiva. Além de avaliar os competidores, Kathryn Bradney e Igor Piovano também ministraram, respectivamente, aulas de ballet clássico e de contemporâneo para os bailarinos. A programação do evento contou ainda com ensaios das variações clássicas e contemporâneas para os participantes.

Qualidade dos bailarinos

A Pré-Seletiva para o Prix de Lausanne, que geralmente é realizada na Argentina ou no Uruguai, foi promovida pela primeira vez no Brasil. A diretora do Prix de Lausanne, Kathryn Bradney, explicou a escolha do País para sediar a seleção. “Nós temos muitos brasileiros talentosos que participam do Prix de Lausanne, então essa pré-seleção é para ajudar e incentivar os brasileiros e os sul-americanos a participarem”, esclareceu.

A presidente do Conselho Brasileiro da Dança, Gisela Vaz, celebrou a escolha do Brasil para ser sede da Pré-Seletiva. “Para nós, é um marco na dança brasileira, porque muitos brasileiros são primeiros-bailarinos em companhias de todo o mundo e, normalmente, os brasileiros são selecionados [para o Prix de Lausanne]. O fato de ser em Goiânia facilita para bailarinos de todo o Brasil participarem, por estar no centro do País”, comemorou.

Outra questão que contribuiu para a escolha do local do processo seletivo foi a qualidade da dança apresentada pelos bailarinos desses países. “Os bailarinos sul-americanos e brasileiros são muito bons. A pré-seleção serve para descobrirmos novos talentos. Como a Suíça fica longe do Brasil e da América do Sul, às vezes, os bailarinos daqui não teriam como ir participar. Então, [a pré-seleção aqui] é uma chance para esses bailarinos”, destacou o gerente de produção do Prix de Lausanne, Igor Piovano.

Tal visão positiva dos bailarinos brasileiros e sul-americanos também é compartilhada pela diretora do Prix de Lausanne: “Esses bailarinos sempre tiveram essa expressão da dança com alma e coração que adoramos ver”. Outra jurada do evento, a italiana Claudia Zaccari, declarou ser fã da dança no Brasil. “Me sinto honrada de participar [da pré-seletiva aqui] e é uma boa surpresa ver a técnica e a performance dos bailarinos brasileiros. Hoje, os brasileiros estão em várias companhias do mundo, com sucesso”, evidenciou.

Ela celebrou ainda iniciativas no mundo da dança, como o próprio Prix de Lausanne, que servem para valorizar “a poesia e a beleza da expressividade humana”. Para a argentina Lidia Segni, essa é uma oportunidade para os bailarinos mostrarem seu desempenho, avaliando também que os brasileiros são “muito bem conceituados”. Já Gisela Vaz destacou que a qualidade da dança brasileira vem aumentando graças ao empenho dos professores e bailarinos em aprimorar a técnica e a versatilidade, atendendo às expectativas dos jurados do Prix de Lausanne.

Essa variedade que os participantes precisam apresentar também foi ressaltada por Kathryn Bradney, ao avaliar a evolução do Prix de Lausanne ao longo dos quase 50 anos de existência da competição. “Tem uma evolução da dança no Prix de Lausanne, pois os bailarinos ficam melhores todo ano. De 1973, quando foi a primeira edição, até 2018, é possível ver a evolução da técnica nos estilos de dança, porque o bailarino precisa ser bom tanto no ballet quanto no contemporâneo”.

Bailarino: João Vitor Percílio/ Foto: Renan Rivi

Prêmios do Prix de Lausanne

O 47º Prix de Lausanne, que acontecerá na Suíça, oferecerá diversos prêmios, incluindo bolsas de estudos e de estágio para alguns dos finalistas. Eles poderão escolher entre as prestigiadas escolas e companhias de dança de diversos países que são parceiras do Prix de Lausanne, onde ficarão por um ano, com as despesas pagas. Entre os vencedores de edições passadas do Prix de Lausanne estão os goianos Carolyne Galvão e Adhonay Soares Silva, hoje na English National Ballet, da Inglaterra, e no Stuttgart Ballet, da Alemanha, respectivamente.

Na edição de 2019 do Prix de Lausanne, os vencedores de bolsas de estudos e bolsas de estágio poderão escolher entre mais de 70 escolas e companhias de dança. As instituições associadas são dos Estados Unidos, Alemanha, Austrália, Suíça, Canadá, Inglaterra, Holanda, França, Hungria, China, Nova Zelândia, Portugal, Noruega, Rússia, Bélgica, Dinamarca, Suécia, Principado de Mônaco, Itália, Uruguai, Espanha e Japão.

Cada bailarino que ganhar uma bolsa de estudos é agraciado com um ano de ensino gratuito na escola de sua preferência e uma quantia de 20 mil francos suíços, para as despesas do aluno durante esse ano. Os prêmios das bolsas de estágio também incluem estágios com duração de um ano e uma quantia de 20 mil francos suíços para cada bailarino, para as despesas durante esse período. O Prix de Lausanne oferece ainda outros prêmios de destaque, como o Prêmio de Interpretação Contemporânea, que é concedido ao finalista que demonstrar um potencial excepcional na variação contemporânea durante as finais.

O vencedor desse prêmio pode escolher entre sete instituições dos Estados Unidos, Inglaterra, Holanda, Espanha e Suíça para fazer um curso de verão de dança contemporânea, com despesas de viagem e acomodação inclusas. O evento também conta com o Prêmio da Fundação Rudolf Nureyev, oferecido a um finalista que não ganha uma bolsa de estudos, mas mostra uma habilidade artística excepcional.

Já o Prêmio para o Melhor Candidato de uma Escola Suíça, no valor de 2500 francos suíços, é atribuído pela Fondation en Faveur de l’Art Chorégraphique ao melhor finalista que represente uma escola suíça, tendo residido e treinado na Suíça por, pelo menos, dois anos antes da competição. Há ainda o prêmio Favorito do Público, que reflete a preferência da plateia por um dos finalistas no dia das finais. O público vota por SMS ou pelo site ARTE Concert.

Se o bailarino mais votado tanto por SMS quanto pelo site for o mesmo, ele recebe 1 mil francos suíços. Caso os resultados dos dois meios de votação sejam diferentes, o prêmio será dividido entre o candidato mais votado por mensagem de texto e o mais votado pela internet. Todos os finalistas receberão diplomas e medalhas e serão agraciados, gratuitamente, com cursos de verão em instituições de dança dos Estados Unidos, da Inglaterra, da França, da Holanda e do Brasil.

Os finalistas que não receberem nenhum prêmio especial ganharão uma gratificação em dinheiro de 1 mil francos suíços. Além dos prêmios principais, o Prix de Lausanne promove o chamado “Networking Forum”, que consiste em entrevistas individuais com diretores de escolas e companhias parceiras que desejam oferecer vagas para bailarinos que não chegaram até a final ou foram finalistas, mas não receberam bolsas de estudos ou de estágio.

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