O rapaz é insistente. Mas seria mais preciso classificá-lo como chato. Sei que se trata de redundância. A característica mais visível de um chato é sua insistência. Um chato não desiste. Um chato não se toca. Um chato não tem dúvidas. Um chato insiste.

E esse insistente, ou chato, tem muita certeza. De tudo. Um exemplo: de que seu candidato é o melhor. Ele não poupa esforços para me convencer do mesmo. Logo eu, que sequer tenho certeza sobre a nossa existência… Longe de mim ambicionar saber o que é melhor para o Brasil.

Mas o chato sabe. E o chato propaga essa certeza. E o chato compartilha memes com grosseiros erros gramaticais, históricos e até mesmo matemáticos. Nada disso para o chato. Sua insistência perante o silêncio ou desprezo do interlocutor é uma força da natureza. Não há tsunami, vulcão, tempestade ou qualquer outro maldito evento natural com potência suficiente para suplantar a certeza de um chato.

Nada disso me impressiona. Sou imã para gente assim. Desde adolescente, sou para-raio de chato. Tenho um olhar de águia para gente chata. Adentro o ambiente e já sei mapear quem são os chatos que irão me importunar naquela ocasião. Raramente erro. Meu olfato para identificar gente chata faria inveja ao Wolverine. Logo, sei bem como os chatos operam.

Mas uma coisa em seu comportamento que me deixa abismado é até banal: como o chato consegue tanto tempo livre para exercer sua chatice?

Bicho, eu preciso aprender com esses caras. Minha agenda não está cabendo nem as coisas mais essenciais para que eu me mantenha vivo. E o chato consegue arranjar valiosos minutos para encher o saco alheio. Seja presencial ou virtualmente, não importa. Um chato sempre vai ter tempo livre para lhe importunar.

O cara vive em função do WhatsApp, lhe bombardeando com vídeos de 12 minutos e 42 megas sobre a “venezuelização” do Brasil. Será que ele assistiu a todos que enviou? Aí, na sequência, um texto quilométrico sobre o que Olavo de Carvalho pensa a respeito das muriçocas do Rio Araguaia. Parágrafos e parágrafos culpando o Foro de São Paulo, os professores de História, os ambientalistas e tudo quanto é ativista por ser importunado na beira do rio que divide Goiás e Mato Grosso. Será que o chato leu o texto que replicou?

O que falta de verdade ao Brasil é espírito empreendedor. O chato está perdendo chance de ganhar dinheiro com sua capacidade de fazer multiplicar as 24 horas do dia. Imagine a palestra: Transforme as 24 horas do seu dia em 48 – Aprenda a ser chato e multiplique seu tempo. Não tenho dúvidas: sucesso no Brasil! Palestras lotadas, vídeos explodindo em visualizações, livros nas listas dos mais vendidos.

Receio que o grande empecilho para que o chato se transforme em ícone brasileiro da autoajuda seja só um: além de chato, o cara é um grande mentiroso. Ele não faz nada do que fala que faz. Ser chato até que passa, mas chato e mentiroso extrapola, né?

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