Olá pessoal! Hoje estréio meu segundo artigo nessa coluna pra lá de especial, onde tenho a missão de trazer pra vocês um pouco sobre empreendedorismo social, pelo mundo.

 

No artigo anterior, onde concluo no título que em um mundo privado o valor é social, eu propus uma definição de empreendedorismo social, expliquei seu advento, como se tornou trendy e como empresas privadas estão se beneficiando e beneficiando o mundo com essa nova lógica de realizar negócios.

Embora essa perspectiva ainda seja muito nova na escola moderna de pensamento econômico, muitas empresas já estão remodelando suas lógicas. De fato, estamos redesenhando nossos valores em todas as esferas e redefinindo nossos propósitos de vida. Mas, Quando o assunto é cuidar dos outros, de si mesmo e ao mesmo tempo ter lucro, as empresas sociais é quem saem na frente.

Acontece que esse circuito de retorno entre geração de riqueza e valor social é algo que já existia nas sociedades mais arcaicas, principalmente nas matriarcais e sociedades onde a economia era baseada no Gift, quem quiser se aprofundar mais nesse assunto pode ler o livro The Gift – Ensaio sobre a dádiva em português – do Antropólogo francês Marcel Mauss. Só para lembrarmos a diferença entre as estruturas de hoje: uma empresa privada é aquela que seu maior objetivo é gerar lucro para os seus donos; a social é aquela que gera lucro enquanto cria valores sociais através da resolução de problemas, como as empresas sistema b; e finalmente as ONGs, que são instituições totalmente sem fins lucrativos.

Mais adiante, as empresas sociais provam que esse relacionamento entre criação de lucro e o bem comum funcionam e geram, sim, lucro! Muhammad Yunus – vocês vão me ouvir falar muito dele aqui pois sou fã número um desse cara e tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente – ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2016 e é considerado o pai do microcrédito. O que começou com um empréstimo de US$27  (R$ 108) de seu próprio bolso para 42 mulheres, em uma pequena vila de Bangladesh há 33 anos, se transformou em um movimento global de microcrédito, que mudou a vida de milhões de pessoas pobres em todo o mundo. Yunus ensina em suas escolas de empreendedorismo social pelo mundo que o objetivo do negócio social é superar a pobreza e um ou mais problemas (tais como educação, saúde, acesso a tecnologia, e meio ambiente) que ameaçam o desenvolvimento social e prejudicam a maximização de lucro.

Outro exemplo incrível, que estou conhecendo de perto através de uma parceria do projeto sem fins lucrativos Eyes of the Street / Olhares da Rua que fundei em 2015 (assunto para o próximo artigo), é a empresa social canadense Plastic Bank, fundada em 2013 por David Katz (recomendo o TED Talk dele). Estou trabalhando com eles em meu próximo projeto que acontecerá no Jardim Gramacho (o maior lixão a céu aberto da América Latina) localizado no Rio de Janeiro. 

Os caras criaram um sistema de economia compartilhada, onde o plástico se torna moeda e são os próprios catadores que cuidam de tudo. Os resultados surpreendentes fizeram com que Plastic Bank se tornasse referência mundial, premiados pela ONU e IBM, pela redução do lixo plástico nos locais onde atuam. O circuito deles diminui a pobreza, ensina os catadores empreendedorismo e engajam o setor privado. 

Funciona assim: um ponto de reciclagem é aberto na comunidade e os catadores trocam o plástico por dinheiro, bens de consumo, serviços e alimentos. Muitos desses benefícios são facilitados por empresas privadas. É uma situação de ganho para todos, inclusive o planeta. O nosso plano é abrir um ponto desses na comunidade do Jardim Gramacho.

 

Tudo isso indica uma mudança de paradigma, como afirma Lynda Gratton, que estuda negócios a mais de trinta anos e é professora da London Business School:

 

“Pode ter havido uma época em que ensinamos aos alunos das escolas de administração que tudo se tratava de competição e que era tudo sobre vencedores e perdedores. Acho que todo mundo percebe agora que não é o caso. O que você quer fazer agora é aprender como colaborar com as pessoas, como construir redes e como compartilhar e ser generoso ”

 

A lógica dos negócios sociais e ONGs provam isso. O envolvimento do setor privado mostra, também, que competir por um lucro desmedido, sem agregar valor a sociedade, não vale mais a pena.

 


Giselle Barboza é Empreendora Social, fundadora do projeto @eyesofthestreet_ e Diretora Criativa em Londres, especialista em soluções criativas para projetos e negócios, graduada em Antropologia e Mídia pela Universidade de Londres.

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