Com tantos paralelos possíveis de traçarmos entre a eleição que estamos vivendo com a de 1989, impossível não sentir falta do Criança Também Vota. Para quem não se lembra do projeto, tratava-se de uma iniciativa suplemento infantil Almanaque que era encartado aos domingos no Jornal O Popular. Uma eleição somente para as crianças. A molecada ia lá e dava sua opinião sobre os candidatos que disputavam o voto dos adultos. Era uma festa.

A única vez que participei foi em 1989. Eu tinha 10 anos e era repórter mirim do Almanaque. Tinha carteirinha e tudo mais. Eventualmente, mandava meus textos para a redação que os publicava. Quando chegava o jornal de domingo, meu pai já tirava o Almanaque e me dava para minha diversão.

Acompanhei toda divulgação do Criança Também Vota na primeira eleição após o fim da ditadura. Estava envolvido com o processo. Assistia aos debates e o programa eleitoral. Cantava os jingles de todos os candidatos. E queria dar minha opinião. O Criança Também Vota saciou essa vontade.

Nos dois turnos da eleição, meus pais levaram eu e minha irmã para votarmos na Praça Tamandaré, onde as urnas do projeto estavam montadas. Você não vai acreditar, mas o clima da eleição estava tão aflorado que tinha até boca-de-urna rolando para algo que não decidia nada. Jovens, entenderam como o clima de 2018 é piada repetida para quem viveu 1989?

Imagem: Divulgação

Em 1994, eu já era um adolescente de 15 anos e não tinha mais razão para participar do Criança Também Vota. Estava começando a me envolver no movimento estudantil da Escola Técnica Federal de Goiás, onde estudava. E as eleições reais já tinham impacto sobre mim. O projeto do Almanaque deixou de fazer sentido.

O jornal não deixou a ideia morrer. Anos depois, levei minha primogênita para se manifestar no Criança Também Vota. Não me recordo se em 2006 ou 2010. Em 2014, ainda rolou o projeto. Mas, como o Almanaque acabou, imagino que não teremos nada agora.

Quando fui com minha filha, a votação acontecia em um shopping. Não tinha o mesmo clima de 1989. É claro que não teria. O contexto era completamente diferente. A verdade é que nunca mais haverá outra eleição como a de 1989 no Brasil.

Pensando melhor, até podemos ter. Vai que a gente entre em uma ditadura e fique por outros 21 anos sem escolher presidente no voto? Parece que tem gente querendo isso aí.

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