Depois de uma belíssima confraternização que participei no último final de semana (vida longa à Acerva Goiana!), parei em uma lanchonete para comer um sanduba. Desses estabelecimentos especializados em hambúrgueres modernosos. Carne farta, molhos diferentões e preços obscenos. Estávamos eu e minha caçula. Esperávamos minha mulher chegar do trabalho para fazer o pedido. Enquanto isso, a baixinha lia um gibi do Tio Patinhas e eu perdia tempo fuçando na vida alheia no Instagram.

Tomava uma cerveja e rolava minha timeline. Nisso, sentou-se em uma mesa próxima um grupo de jovens. Três rapazes e uma garota. Não deveriam ter mais que 20 anos. Chegaram em um carro popular e pediram cerveja enquanto folheavam o cardápio. Estavam animados. Aquele deveria ser o lanche que antecede a balada de sábado. A excitação na conversa era quase palpável. Impossível não refletir o quão feliz é essa fase da vida. E também o quão boba ela é.

Eles falavam alto, gesticulavam e riam com fartura. Criticavam a fulana que fumava muito, o beltrano que não sai da academia, o ciclano que fala cuspindo. O professor que não dá aula e só contava histórias da própria vida. Um reclamou do chefe – talvez o primeiro de sua vida. Mal sabe ele que essa figura vai acompanhá-lo pelo resto dos dias. E se ele decidir empreender para ser seu próprio chefe, terá em cada cliente a encarnação desse que ele reclama hoje.

Aos poucos, com a filhota envolvida com uma aventura do Pato Donald pelos becos e pontes de Veneza, fui me lembrando de quando tinha a mesma idade da galera ao lado. Minha vida hoje, beirando os 40 anos, é completamente diferente do sonho que eu nutria aos 20. Na verdade, se voltasse no tempo para me encontrar comigo mesmo há duas décadas, eu jovem me acharia um baita mentiroso.

Era louco para morar fora, hoje não me vejo vivendo em outro local fora Goiânia. Não queria ter filhos, hoje sou pai de duas garotas. O sonho de casa própria era um apartamento em região central, hoje moro na zona rural criando galinhas. Queria ter um emprego não convencional, hoje prezo pela semana inglesa. Ah, como agradeço essa tal maturidade! Não troco nenhum fio de cabelo branco ou dor na lombar por aqueles sonhos pueris.

Findado meu devaneio, voltei a me atentar aos jovens ao lado. Eles já comiam seus sanduíches. Sem preocupações com a gordura ingerida, com o peso, com o índice de colesterol. Só com a prova de final de semestre na faculdade.

Daqui 20 anos, se esse mesmo grupo ainda tiver contato entre si, o que é altamente improvável, as preocupações serão com o excesso de peso e os boletos que não param de entupir a caixa de correio. Ao lado deles, estará um grupinho de jovens de 20 e poucos anos se preparando para a balada do sabadão. E eu serei um quase sexagenário. Achando estúpido tudo que eu pensava aos 40. 

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