Roman Polanski. Basta citar esse nome para que a treta se imponha. Não é para menos. As polêmicas e crimes que marcam a trajetória desse diretor, ator, roteirista e produtor são do tamanho de seu talento. Chinatown (1974) e O Inquilino (1976), meus preferidos, são prova inconteste disso. No último final de semana, assisti A Pele de Vênus. Como é bom ver que o tempo passa, mas a ousadia da arte de Polanski não.

Lançado em 2013, é um dos poucos filmes em francês do diretor compatriota de Napoleão e o primeiro que rodou depois que saiu da cadeia. Polanski manda muito bem em sua língua natal.

Cinema minimalista. Somente dois atores e um palco de teatro. Em situações assim, o roteiro precisa ser poderoso para segurar a atenção do público. E é exatamente isso que o filme entrega. Uma história envolvente em seus diálogos, em suas surpresas e em seu desfecho apoteótico.

Mathieu Amalric e Emmanuelle Seigner (esposa de Polanski desde 1989) contracenam de forma intensa. O filme é calcado no livro A Vênus das Peles, de 1870 e escrito por Leopold von Sacher-Masoch. O termo masoquismo é derivado do sobrenome do autor – Masoch. Nesse comportamento de submissão se fundamenta o argumento do filme.

Amalric interpreta Thomas, um diretor teatral que está promovendo testes para encontrar a atriz que irá viver Wanda na montagem que prepara do livro de Masoch. Seigner chega atrasada ao local, mas consegue a oportunidade de fazer o teste.

A grande sacada do filme é a forma como o texto da peça aos diálogos da vida dos protagonistas. As falas dos personagens do livro se misturam com as do casal no palco. A atriz percebe espaço e se impõe sobre o diretor que se deixa envolver no jogo de sedução.

Polanski propõe um cinema que cruza segmentos artísticos, que cruza a arte com a vida. Como o grande cinema deve ser.

Se quiser dar uma variada, sair dos filmes falados em inglês, sair do cinema de entretenimento pelo entretenimento e, ainda assim, se entreter com algo sexy e inteligente, A Pele de Vênus é uma boa alternativa.

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