“Bicho, ele está pensando em matar o outro…”, pensei.
Quando ameaça de morte entra na conversa é prova de que tudo deu errado. A frase ecoou em minha cabeça por horas e horas.
“Eu vou contratar um pistoleiro pra matar esse filho da puta!”.
Eu ouvi isso. O cara falou para mim com raiva no olhar, ódio nas palavras. Não acredito que a ação vá de fato se concretizar. Torço que não. Tomara que não.
Acho que ele disse de cabeça quente. Mas é melhor não brincar. Quando a hipótese de matar alguém entra no radar, se torna uma das opções do cardápio, é por que a coisa degringolou há muito tempo.
O acaso me levou a uma confusão da qual não tenho nada a ver. Só pra variar. Sou quase um especialista em colocar panos quentes em treta dos outros que chegam até mim. Talvez os astros saibam a razão disso ser tão frequente na minha vida.
A natureza me trouxe um problema. Isso aconteceu há mais de um mês. Tenho que resolver esse problema com certo alguém. Esse certo alguém está com ódio de outro que tem relação com o problema que me atingiu. Tentando negociar uma solução com esse certo alguém, ele me soltou a fatídica frase.
“Eu vou contratar um pistoleiro pra matar esse filho da puta!”.
O cara é o que se chama de cidadão de bem. Profissional da área da saúde, possui alguns imóveis em Goiânia e cidades próximas como investimento. Grana não é problema. Mora em bairro nobre. Passeia com o filho e dois cachorros no Vaca Brava aos finais de semana. Sorriso fácil. Compartilha fake news pelo WhatsApp. Tenho certeza que você também conhece alguns desse tipo em seu círculo social.
Eu estava tentando resolver minha pendência com ele na calçada do prédio onde mora, numa daquelas tês da vida do Setor Bueno.
“Eu vou contratar um pistoleiro pra matar esse filho da puta!”.
“Calma, cara. Tenta botar um advogado na cola dele que isso se resolve”.
“Resolve porra nenhuma! Você acha que já não fiz isso? Ele é vagabundo. Bandido! Deve pra agiota, deve pra todo mundo. Se ele morrer, a polícia nem vai saber quem mandou matar de tanta gente que quer ver esse filho da puta no cemitério”.
Apertei a mão dele e me despedi. Tomei um prejuízo financeiro, pois vou resolver meu problema por mim mesmo. Mas não vou me meter em treta dos outros na qual assassinato é uma das soluções pensadas. É emoção demais para mim.
entendo. as instituições não tomam providências… acaba nisso…