A vida profissional nos leva a fazer coisas que a gente só faz por que alguém nos paga para isso. Ou seja, se não tivesse grana na jogada, estaríamos envoltos com qualquer outra atividade. Cuidando da vida, regando as plantas, sei lá.
Entrar em debates é algo que só faço por razões essencialmente financeiras. Não era meu plano quando entrei na faculdade de Comunicação, mas o destino me empurrou para o jornalismo de opinião. Hoje, só digo o que penso se tiver algum em espécie na jogada. Caso contrário, fico na minha. É melhor. É mais saudável. Evita a fadiga. E você não vai querer que eu trabalhe de graça, não é mesmo?
Como proletário obediente que sou no exercício de meu ofício, emito minha opinião sobre aquilo que me sensibiliza. Seja para a indignação, comoção, raiva… Tem que mexer com meu coração de alguma forma. E também sobre aquilo que está na pauta do dia. Normalmente, apanho mais que Judas em Sábado de Aleluia. Não me incomoda. Está entre os meus deveres profissionais ouvir o público. E o faço com todo profissionalismo possível.
Volta e meia, alguém me chama de doutrinado por conta de minhas posições. Não consigo conter minha satisfação ao ouvir esse termo.
Doutrinado. Uma felicidade orgástica toma conta de mim.
Doutrinado. Ah, como é gostoso o regozijo da vitória!
Quando essa palavra surge, sei que consegui fazer o meu melhor. Dei um xeque-mate no meu interlocutor. Atingi meu ápice argumentativo. E o cara acusou o golpe.
Se o que eu disse ou escrevi fosse simplesmente irrelevante, convenhamos, ele sequer se manifestaria. A gente só anima a emitir uma opinião sobre algo se aquilo nos incomoda ou acalenta. O que não fede e nem cheira, é claro, passa batido.
Outro dado possível de inferir quando sou chamado de doutrinado é que o cara reconheceu inteligência. Caso contrário, se achasse burro o argumento usado, me colocaria o adjetivo mais óbvio: burro. E com burro a gente não conversa. Ou ofende ou ignora.
Também fica explícito quando o cara me chama de doutrinado que ele não conseguiu combater o argumento. Afinal de contas, ele partiu para a desconstrução do interlocutor e não do que foi dito.
Quando o argumento é bom, o interlocutor discorda, porém não sabe como contestar, o desespero bate. Somos animais e todo animal encantoado age assim. E lá vem o termo querido: “Você só diz isso por que é um doutrinado!”.
Seguro meu sorriso e continuo com a feição de quem está atento à fala. Mas no íntimo estou gargalhando. Fazendo a dancinha da vitória. Correndo para torcida comemorando o gol.
Vamos lá, satisfaça meu desejo mais excitante, me chama de doutrinado, vai…