Nesse ano que está para terminar, me dei uma função que normalmente não me apetece: ouvir o máximo possível dos lançamentos da música brasileira. Com algum esforço, cumpri a empreitada. Sobrevivi.

Isso não é minha prática. Embora envolvido com música desde a adolescência, não gosto de ter minha percepção influenciada pelo oba-oba do momento em que a obra ganha a praça. A audição de um disco com o distanciamento de alguns anos produz uma leitura mais precisa. Dá para avaliar se o trabalho realmente tem valor. Ouvi muito Public Enemy para confiar no que é momentaneamente incensado. Don’t believe the hype, talquei?

Não era meu objetivo inicial elencar o que de mais legal escutei em 2018. Essa ideia só pintou quando comecei a ver as listas de melhores discos publicadas. Deram muito espaço para coisas superestimadíssimas. Deixaram de lado pérolas. Tento aqui corrigir essas distorções. Claro, tudo eivado das minhas mais abjetas idiossincrasias.

10 – Rogério Sylab – O Rei do Cu

O profícuo compositor carioca segue seu trabalho de tirar do senso comum a música brasileira. O texto é agressivo? Sim, mas com método e rigor. Os cânones do mundinho indie recebem críticas por que iconoclastia é a especialidade de Skylab.

Destaques: Dedo no cu e gritaria; O impossível.

9 – Kassin – Relax

O pop do carioca segue seu improvável caminho nesse álbum. Nonsense nas letras e produção caprichada dão o tom do trabalho. É AOR (estética que entrou mesmo na moda) com groove de branco.

Destaques: Relax; Digerido.

8 – Wado – Precariado

O alagoano é uma impressionante usina de bons sons. Fico de cara como ele nunca erra. No último disco, Wado mantém sua exitosa trajetória apostando mais nas melodias e buscando parcerias que somam ao trabalho.

Destaques: Roupa; Girassóis.

7 – Maurício Pereira – Outono no Sudeste

Outro talento incrível que nunca erra. Paulistano até a medula, Maurício Pereira é um dos grandes letristas que temos, mostrando sua verve desde o Mulheres Negras. Nesse álbum, o clima jazzy aparece como fundo para emoldurar seu inteligente texto.

Destaques: Outono no Sudeste; Quatro dois quatro.

6 – Erasmo Carlos – Amor é Isso

Finalizada a fase Viagra e roqueira, Erasmo Carlos volta ao lirismo. Juntou um belo repertório e nos presenteou com um álbum de peso em seu vasto currículo de bolas dentro do gol. Se todos artistas envelhecessem com essa coragem inspirada, o planeta seria um lugar mais aprazível para vivermos.

Destaques: Novo sentido; Não existe saudade no Cosmos.

5 – Molho Negro – Normal

A banda paraense é dona do melhor texto do rock nacional contemporâneo. Uma faixa melhor que a outra. Nesse álbum, eles vêm mais pesados e diretos que nos três discos anteriores. Sarcasmo, inteligência e bom humor para se ridicularizar. Que bandaça!

Destaques: Novo rosto; Como não se fazer um hit; O jeito de errar.

4 – Almir Sater e Renato Teixeira – AR

Música sertaneja feita hoje. Com respeito às tradições, mas olhando pra frente. Um disco que compreende que o sertão está conectado à metrópole e ambos se influenciam mutuamente. Singelo, bonito, inspirador. Dá gosto ouvir um disco com tamanha sensibilidade.

Destaques: Minas é logo ali; Quando a gente chama; Venha me ver.

3 – Djonga – O Menino que Queria Ser Deus

O melhor álbum de rap brasileiro de 2018. Disparado. Flow em cima, beats minimalistas e letras contundentes. Mineiro, brasileiro, universal. Discão.

Destaques: Junho de 94; Ufa; Eterno.

2 – Gal Costa – A Pele do Futuro

A crítica especializada comeu mosca demais ao não dar a devida atenção a esse trabalho. Ousada, buscou referências na disco music setentista, aliando essa estética à música sertaneja. Belíssima performance da cantora. Golaço.

Destaques: Sublime; Palavras no corpo; Cuidando de longe; Realmente lindo; Minha mãe.

1 – Gangrena Gasosa – Gente Ruim Só Manda Lembrança pra Quem Não Presta

O disco de volta da icônica banda carioca passou completamente batido nas listas de melhores do ano. Azar das listas. Os caras aprestaram um álbum incrível que valeria estar aqui somente pela genialidade do nome. Além desse acerto, tem uma sequência de músicas que soma ao nobre legado da Gangrena. A melhor música do ano é desse álbum:Encosto. A produção destacou o trampo de percussões, o que deu mais saravá ao metal dos caras. Se for ouvir alguma coisa dessa lista que fiz, por favor, comece por esse que é o melhor.

Destaques: Gente ruim só manda lembrança pra quem não presta; Terno do Zé; Encosto; Trabalho pra 20 comer; Se liga doidão (Zé Droguinha); Fiscal de cu.

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