Dezembro rolando, confraternizações para tudo quanto é lado. Descendo minha timeline, vejo fotos e mais fotos de pessoas que trabalham o ano inteiro juntas e que só se encontram fora do escritório uma única vez nos 365 dias que a Terra leva para dar uma volta ao Sol – quando o chefe está pagando a conta.
Normal. Ninguém é obrigado a ter amizade com colega de trabalho. O ambiente profissional costuma ser muito heterogêneo. Pessoas dos mais diferentes perfis compartilham horas e horas lado a lado pelo único motivo de fornecerem sua mão de obra para o mesmo patrão. É do jogo.
Observando essa onda de fotos de confraternizações, as compartilhadas por alguém no Facebook me chamou a atenção. Umas 30 pessoas se aglomeravam para o clique. Observando a aparência, penso que só uma pessoa deveria ser balzaquiana. Talvez já tivesse passado dos 40. Calvo, barba começando a ficar grisalha. Ele estava no centro da foto, na frente do restante do pessoal. Intuí que ele era o dono. O cara tinha uma postura corporal, que eu não saberia traduzir em palavras, que lhe dava esse aspecto de superioridade. Ali, compreendi a razão pela qual ele era o mais velho da turma e único daquela faixa etária.
A empresa é uma agência de comunicação. Nome em inglês. Vende conceito. Posa de engajada. Modernex. Descolex. Tipo que lhe oferece soluções em termos que você não compreende. Gente jovem reunida. Todos com cara de estagiários ou recém-formados. Roupas coloridas. Penteados ousados. Tatuagens em profusão. Brilho no olhar. Sorrisão bonito para foto.
Eu nunca contrataria os serviços dessa empresa. Não confio em um local em que só jovens trabalham.
Se as pessoas não envelhecem naquele local, não compartilho dos mesmos ideais da empresa. Se não contratam quem já tem cabelos brancos, minha visão de mundo é diferente demais de quem comanda o escritório para que possamos estabelecer uma relação que me seja satisfatória.
Penso assim como cliente, penso assim como trabalhador. Tive esse clique ainda jovem, coisa de alguns séculos atrás. Trabalhei por um curto período em uma empresa que não tinha ninguém com mais de dez anos de casa. Saquei que ficar por ali seria roubada. Gosto de sonhos de longo prazo, mesmo que não se realizem. A possibilidade de envelhecer em um trabalho, em uma casa, em um relacionamento me fascina. Pedi demissão na primeira oportunidade.
Em outra empresa, vivi algo diferente. As pessoas envelheciam em suas funções ou ascendiam se tornando chefes. Tive colegas com duas ou três décadas de casa. O problema ali era outro. O olhar deles carregava uma tristeza, uma melancolia. Não queria aquilo para mim. Não queria andar com a coluna encurvada tal qual um dromedário só olhando para o chão. Envelhecer por ali não era sinônimo de felicidade ou estabilidade. Era um fardo. E saquei que pesado demais para mim. Caí fora.
Vendo os sorrisos pueris e cheios de vida da molecada da foto da agência, em contraste com o chefe posando de garotão na frente da rapaziada, entendi por que não fiquei na primeira empresa que aqui citei. Vendo que os colegas da segunda empresa nem postaram fotos de confraternização alguma, entendi por que não fiquei por lá.