Brumadinho é prova concreta de que nosso país tem um grande passado pela frente, como o genial Millôr Fernandes certa vez disse. Somos aquele ratinho de laboratório, na gaiola, correndo na roda. Estamos presos, envoltos por uma realidade agressiva, correndo, suando, cansando e não saindo do lugar. Zero deslocamento. Para usar uma metáfora humano, somos o aluno de academia na ergométrica: pedala quilômetros e não se anda um mísero metro adiante.

A certeza é de que a tragédia de Brumadinho não vai nos ensinar nada. O rompimento de barragem com mortes e destruição ambiental irreversível vai continuar acontecendo. Quando será a próxima? Qual a próxima? Que desalento viver dessa forma.

Cautela não é uma característica típica do brasileiro. Dados de 2017 mostram que somente 20% de nossa frota automobilística circula com seguro. Se tivéssemos um trânsito civilizado, vá lá, ainda teria uma explicação para esse índice tão pequeno. Não é o caso. A carnificina em nossas ruas e estradas grita aos olhos. E nem por isso fazemos o bendito seguro para o carro.

E não é só em relação aos nossos carros. Pesquisa feita pela Universidade de Oxford mostra que somos o país com o menor índice de pessoas com seguro de vida do mundo. Somente 19% dos brasileiros são segurados. A média global é de 32%. No Japão, chega quase a 90%.

A gente sabe que a Previdência Social está quebrando e a reforma é inevitável. Você já fez a sua privada? Pois é…

Essa nossa imprudência, esse jeito de ignorar o perigo, essa frouxidão com as regras, essa imprevidência em nossas próprias vidas se reflete nas escolhas que nossos governantes fazem. A fiscalização precária, a leniência com os infratores, as multas de faz de conta que nunca são pagas, o discurso virulento que ideologiza a questão ambiental…

Já que chegamos na política, sejamos justos: a responsabilidade objetiva pela tragédia de Brumadinho não pode ser debitada nas contas de Jair Bolsonaro e Romeu Zema. O rompimento da barreira é culpa da ausência de fiscalização séria e da legislação ambiental brasileira que permite a procrastinação da punição. Contudo, o discurso que ambos políticos usaram na eleição não foi de melhoria desse sistema que já é péssimo. Os dois falaram em relaxamento de leis, em tirar o Estado do cangote de quem produz, em “multagem” por parte dos fiscais. Ou seja, querem piorar o que já não funciona. Tomara que as mortes de Brumadinho os sensibilize para não cometerem esses erros crassos.

O desastre de Mariana não ensinou nada e veio Brumadinho. O da última sexta-feira não vai nos deixar mais prudentes e o próximo virá. Só nos restar torcer para que não morra tanta gente.

Comente

X