Datas redondas marcam o jornalismo. Por isso é tão comum lembrarmos de eventos que acontecerem 10 anos, 50 anos, um século atrás. Essas ocasiões são propícias para uma avaliação crítica, com o devido distanciamento histórico, de determinado fato ou personagem.

É hora de medir um legado. Observar as consequências atuais daquilo que comemora aniversário. Ganhou importância com o passar dos anos? Caiu no esquecimento? Envelheceu bem ou mal? Manteve consistência? Fez herdeiros? Responder essas perguntas é fundamental para compreendermos determinado evento.

Para um cara como eu que completa 40 anos em maio, mal dá para acreditar que já estamos olhando para as efemérides de 1989. O tempo voa. E o saudosismo é inevitável. Tentar estabelecer quais marcos completam 30 anos nesse esquisito 2019 é um desafio.

Começamos 1989 com o Plano Verão. Mais uma das infrutíferas tentativas dos executivos engravatados de Brasília de domar a assombrosa inflação que José Sarney, sempre é bom lembrar, herdou da ditadura militar.

Como ninguém mais botava fé no bigodudo maranhense, a esperança com a primeira eleição presidencial depois de décadas podia ser sentida no ar. Todos esperavam um segundo turno entre Leonel Brizola e Paulo Maluf. A história nos deu Lula versus Collor. Deixo as avaliações por sua conta, nobre leitor.

No plano internacional, a queda do Muro de Berlim é a marca definitiva de que um novo tempo estava começando.

A televisão brasileira nos brindava com Temperatura Máxima, Oradukapeta, Festival Trinity, Bronco, Xou da Xuxa, Salvador da Pátria, Jô Soares Onze e Meia, Cozinha Maravilhosa da Ofélia, Kananga do Japão, Top Model… e Chaves, é claro.

Os esmeraldinos tiveram um ano de alegria. Uma boa campanha no Brasileiro e, o principal, o título do Goiano em cima do Vila Nova. Eu estava no Serra Dourada no terceiro jogo e decisivo jogo entre os rivais. Pela primeira vez ouvi a torcida verde gritando “tá cedo, Vila!”, enquanto os vilanovenses deixavam o estádio. A primeira de muitas que já ouvi/gritei isso nas arquibancadas.

Já como flamenguista, a coisa foi mais difícil. Perder aquela final do Carioca para o Botafogo até hoje me incomoda. O rival saiu de uma fila de 21 anos sem títulos e ainda hoje é lembrado pelos botafoguenses como um dos momentos épicos da história do clube. O Flamengo também conseguiu a proeza de perder Bebeto para o Vasco da Gama. Ver o ídolo que marcou o gol do título brasileiro de 1987 jogando com a camisa do rival era muita decepção para uma criança.

Na música, bons discos e uma péssima notícia. Os Titãs colocaram nas prateleiras o Õ Blésq Blom, disco que fecha a trilogia de melhores álbuns da banda junto de Cabeça Dinossauro e Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas. A Legião Urbana fez seu último grande disco, As Quatro Estações. O Paralamas do Sucesso entregou o bom Big Bang. A perda irreparável foi de Raul Seixas, que nos deixou em 1989.

A pergunta que fica é: em 2049, o que lembraremos desse 2019? Em dezembro, poderemos dar nossos chutes.

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