Eu não aguentava mais. Minha caçula, que tem quase oito anos de idade, entrou numa fase em que só assistia a um desenho de dragões no Netflix. Nem sei como se chama aquele troço. Os personagens têm nomes esquisitos, do tipo Meleca, Soluço, Cabeçudo ou coisas assim. São muitas temporadas disponíveis. Tudo chato além da conta. E, o pior de tudo, ela não se contenta em assistir uma única vez. Cheguei no meu limite.
 
Para tentar oferecer outra alternativa de entretenimento audiovisual e também criar alguma diversão que nós dois fizéssemos juntos, propus que a gente começasse a ver Os Simpsons. Tenho os boxes das oito primeiras temporadas. Minha ideia foi que começássemos no primeiro episódio da primeira temporada e fôssemos adiante. Um por dia. Todos os dias.
 
Minha mulher, a parte responsável da família, questionou se seria prudente. Achava que a temática poderia ser pesada para a idade dela. Tomei a atitude mais Homer Simpson do mundo: dei de ombros. Depois de cinco ou seis episódios, comecei a pensar que talvez a mãe estivesse certa e fui checar a classificação indicativa do desenho. Não é fixa. Varia conforme o episódio. Alguns são livres. Mas também têm os que são recomendáveis para crianças acima de 10, 12 e 14 anos. Nem dei bola. Sabe como é, minha casa, minhas regras.
 
Não vou dizer que não passo por alguns apuros. Tive que contextualizar a violência explícita de Comichão e Coçadinha. É preciso pausar em alguns momentos para explicar o significado de uma palavra ou expressão. Cigarros e charutos são fumados sem nenhum pudor pelos personagens – vale lembrar que a primeira temporada foi exibida entre 1989 e 1990, antes do furor antitabagista mundo afora.
 
Quando entram em cena nuances sexuais, a coisa fica mais delicada. Em certo episódio, a Marge tem sonhos eróticos com outro cara. Em outro, o Bart cobra ingresso da molecada para assistir o canal adulto da TV a cabo que Homer furtou e instalou em casa. Agradeço aos céus que ela não se tocou e os assuntos passaram batidos. Não sei até quando serei agraciado por essa sorte.
 
Só que esses perrengues são pequenos, praticamente irrelevantes. Os momentos de diversão sem estresse são bem maiores. Ela já fica ansiosa para ver qual será a frase do quadro que Bart escreverá todos os dias. A mesma coisa com a cena do sofá na abertura. Quando os compromissos da vida impedem de assistirmos a um episódio, ela cobra com juros: quer ver dois no dia seguinte.
 
Já estamos no meio da segunda temporada. A série está em sua trigésima. Temos muito chão pela frente. E eu aproveito para rever o meu desenho preferido de todos os tempos.

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