Minha infância é inteiramente oitentista. Nasci em 1979. Nos anos 1980, com a ocaso melancólico da ditadura militar, símbolos pátrios estavam meio em baixa. Os brucutus dos quartéis não gozavam de muito prestígio social. Eram merecidamente ridicularizados. Afinal, a hiperinflação arruinava os orçamentos familiares e não víamos ideias convincentes vindas de Brasília para melhorar a renda e gerar emprego.

No início da democracia e da Nova República, nos governos Sarney e Collor, alguns cadáveres de quando os fardados ainda davam as cartas estavam em nosso currículo escolar. Educação Moral e Cívica, OSPB… Perfilar para cantar o hino nacional também estava nesse rol.

Não me recordo com que frequência ficávamos em fila no pátio da escola para hastear a bandeira do Brasil e cantar o hino. Lembro que na Semana da Pátria, junto do 7 de setembro e feriado da Independência, todos os dias estávamos lá, na quadra da escola, perfilados como almeja o ministro da Educação.

Deixe-me confessar uma coisa, senhor Ricardo Vélez, eu adorava esse momento. Não sei como foi em sua infância na Colômbia, mas aqui em nossas plagas era um ótimo motivo para dar uma cabulada na aula. Sair da rotina maçante de quadro e giz. Qualquer minuto fora da sala era comemorado. Saca o Alice Cooper? School’s out. Mesmo que seja para cantar um hino da pátria no pátio.

Nessas ocasiões, aproveitávamos para puxar o cabelo das meninas que achávamos bonitinhas mas não tínhamos ainda a técnica de nos aproximarmos que não fosse pela irritação. Chutávamos a bunda do nerd, o que hoje seria chamado de bullying. Aprendíamos as versões pornográficas dos hinos para cantar em casa e tomar uns beliscões dos pais. Grandes momentos.

Não sei a letra completa do hino nacional até hoje. E nunca me fez falta. Não sei qual é o Hino à Bandeira. Muito menos o à Independência. Mas sei que a Juliana da 3ª Série não gostava quando puxávamos a xuxinha do cabelo dela. E que o japonês tem quatro filhos, todos eles aleijados.

É importantíssimo que preservemos esses grandes símbolos nacionais, ministro. Aquele e-mail para as escolas tem esse intuito, imagino.

Grande ideia. Grande dia.

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