Amigo, não vamos para o Poço do Sucuri. O olho piorou. O Gustavo vai me levar para Goiânia que consegui uma consulta. Fica para a próxima. Se tudo der certo, talvez volte de noite e a gente se encontra. Beijo”.

No feriado de Finados do ano passado, viajamos para Goiás Velho. Ela também passava os dias de folga com a família na antiga capital. Viu pelo Instagram que estávamos lá e marcamos de nos encontrar. Não rolou. Ela estava sentindo uma dor no olho e voltou para Goiânia para ver o que era.

Conheci Andrea Regis em 2001, no início do ano. Comecei a estagiar na Contato Comunicação e ela era a chefe do Jornalismo. Fiquei poucos meses por lá, quatro ou cinco. E nunca imaginei que em período tão curto de convivência diária conseguiria uma amizade para a vida.

O gosto pela música nos uniu. Ela falava de Bon Jovi, eu de Weezer. Ela de Kiss, eu de Oasis. Começamos a frequentar a casa um do outro. Ela era casada com o Evandro Braga, guitarrista da Casa Bizantina. Eu estava envolvido com produção cultural, Vaca Amarela, Fósforo Cultural, bandas. Eram muitas afinidades com o casal. Fomos juntos assistir ao Lenny Kravitz em Brasília. Uma chuva desgraçada no Mané Garrincha e, mesmo de capa de chuva, a elegância da Andrea se destacava.

Eles se separaram, ela se mudou para a Suíça. E se casou com um goiano por lá. Trocávamos e-mails com frequência no seu período europeu. O casal se mudou para São Paulo. Em 2009, o AC/DC veio tocar na capital paulista. Fui ver o show e ficar hospedado na casa deles. Foi quando conheci Gustavo Moura. Entornamos todas no Veloso. Varamos a madrugada na sacadinha do apartamento da Vila Mariana com uma vista linda da Serra da Cantareira. Nessa noite, ganhei também um amigo para a vida. Na manhã seguinte, eu de ressaca e inválido. O Gustavo, passando mal no banheiro. A Andrea, de roupa de academia toda suada, voltando do treino. Queria ter aquele ânimo e resistência.

Fomos para São Paulo em várias oportunidades, sempre nos hospedando na casa deles. Muito shows. Paul McCartney, Rage Against the Machine, Eric Clapton…. Um melhor que o outro.

Quando voltaram para Goiânia, fizemos um churrasco em casa para receber o casal. Ela não comia carne vermelha. Comprei asinha, coxinha e coração de frango só para Andrea. Ela havia parado de comer frango. Era só peixe. A Andreia, minha mulher, arrumou um salmão no congelador. Tudo resolvido. E dá-lhe sorriso. E dá-lhe garrafas de vinho. E dá-lhe alto astral.

A inteligência dela era algo inacreditável. Cultura vasta, sempre tinha algo a dizer sobre qualquer assunto. Viagens, filmes, livros, bandas, roupas, seriados… Com gente assim, a conversa nunca acaba.

Quando ficou grávida do Plínio, foi uma alegria. A Nara, nossa caçula, agora teria um amigo para brincar enquanto nossos almoços infinitos ganhavam a noite. Os baixinhos se deram super bem e se chamam de primos.

No nosso último almoço, eu e a Andreia falamos que iríamos para Nova Iorque. Andrea nos passou seu livrinho de dicas. Levou para mim na Interativa. Foi super útil na viagem. Não tivemos tempo de devolver. A maldita dor no olho que apareceu em Goiás Velho tratava-se de um câncer agressivo. Andrea partiu no último sábado.

A ausência dela dói. Uma porrada violenta demais. É um buraco que nunca vai se fechar em meu coração. Nunca imaginei que a perderia. Muito menos tão precocemente. Tínhamos planos de viajar para a Suíça com eles, alugar uma casinha nos Alpes. De lá, seguir para o Leste Europeu, onde ela e o Gustavo haviam passado um Réveillon e tinham um monte de coisas a nos mostrar.

Sorte minha ter compartilhado tantos momentos com a Andrea. Azar o meu não poder ver seu sorriso novamente. Todas lágrimas são poucas para agradecer a existência de alguém tão especial.

Um beijo, amiga. Você vai fazer muita falta.

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