Por Guilherme Augusto Santana

Hoje a missão era espinhosa. Comprar castanhas para a esposa no mercado do centro da cidade. Quem já o fez sabe das dificuldades que estou falando. Desde movimento, trânsito, estacionamento, correria, impaciência e todos os obstáculos presentes nas idas aos centros das grandes cidades. Muitas vezes me perguntei porque ir ao centro e não comprar nos supermercados mais próximos de casa. Confesso que já refleti sobre mil justificativas como qualidade do produto, rotatividade, preço, mas no fundo não conseguia entender bem a força motriz que me conduzia a tal ato instintivo. Hoje acho que comecei a descobrir.

Após passar pela corrida de obstáculos inerentes à missão e conseguir alcançar o objetivo traçado, deparei-me retornando ao estacionamento por um caminho menos objetivo. Algo me levava por caminhos mais tortuosos dentro do mercado. Foi quando, espantosamente, dei de cara com as famosas empadas do Alberto. Quem é glutão por natureza como esse que vos escreve, tem uma certa idade, e mora em Goiânia com certeza já provou ou ouviu falar de tal acepipe. E olha que estão naquele local desde 1947! Não podiam esperar mais para serem devoradas. Assim o pensamento defendeu a causa. E assim a faculdade de julgar deu veredito procedente e sentei-me no banco à beira do balcão. Olhei as variedades e questionei a moça do atendimento: “elas são grandes demais”. Eis que ela me responde: “bom que enche a barriga”. Convenci-me. Eu e meu pensamento. A moça era boa de argumento (quase a convidei para se juntar a mim na venda de jazigos mas achei melhor não entrar no assunto). Escolhi uma de frango com guariroba. Quem não sabe o que significa essa palavra de origem indígena, nada mais é que um palmito amargo. Pensa que foi pouco. Escolhi outra de frango com pequi. Pequi vocês sabem o que é né? É o acompanhamento mágico para frango e guariroba. Para quem achava que era grande uma empada, fiquei com duas. Enchi a barriga. Para arrematar uma coca bem gelada. Dá pequena que é para vocês não torcerem o nariz.  Para finalizar mandei embrulhar uma de cada variedade para levar para a esposa. Se ela descobre que comi empada no mercado e não levei p/ ela… ai, ai, ai.

Saí todo “cururu teitei” do mercado com a encomenda e a não encomenda. Aí vocês devem estar se perguntando: e qual o objetivo do cronista com essa cena além de nos passar vontade com a empada? Pois calma que eu respondo: Não perder as oportunidades que a vida lhe apresenta. E não estou falando de empada nesse momento. Estou falando de um abraço apertado em um filho, de um colo de mãe, de um mimo para o cônjuge sem ele esperar, de um sorriso para uma pessoa andando apressada na rua, de uma palavra amiga a um amigo. Estou falando dessas pequenas coisas que muitas vezes deixamos passar por entendermos que são muito pequenas, mas que ao final somadas, representam a essência de uma vida. Pois como ia dizendo, saí do mercado carregando as encomendas, um sorriso largo e a sensação de ter aproveitado a oportunidade quando a vida me ofereceu. Vai que eu morro amanhã sem ter comido a empada do Alberto de novo né?         

 

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