Um par de anos atrás, eu estava descendo a 85 e, na Praça do Ratinho, peguei a 87 em direção à Praça do Cruzeiro. Um outdoor gigante me deu um tapa na cara, ali em frente à Faeg. Uma foto do então juiz Sérgio Moro o estampava. Semblante fechado, cara de poucos amigos. A frase que o ilustrava era afirmativa: “Somos todos Sérgio Moro”. Qualquer pessoa que já tenha lido duas frases de qualquer teórico acerca da democracia sabia que ali estava tudo errado. Um completo absurdo.

Não sei se é legal ter um magistrado com foto estampada em outdoors e nem quem pagou por isso, mas a imoralidade é evidente. E tinham vários outros erros ali. A mania de procurar um herói nacional, o perigoso culto à personalidade. Como não lembrar do clássico do Living Colour em seu Cult of Personality?

O tempo passa e Moro, aquele herói do outdoor, deixou a toga para entrar na política. Parcela importante da opinião pública o considera um dos pilares racionais do governo de Jair Bolsonaro. Moro seria um contraponto iluminista ao núcleo lunático sob influência de Olavo de Carvalho. Dando nome aos bois, Ernesto Araújo, Damares Alves e Ricardo Vélez.

Ao nomear a cientista política e especialista em segurança pública Ilona Szabó para a suplência do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, Moro reforçava sua imagem de sensato perante o oceano de devaneios que inunda a Esplanada dos Ministérios.

Vamos entender primeiro o que é um Conselho. Trata-se de um órgão consultivo. Não tem poder decisório, não tem caneta. Estamos falando de um foro de debates para elaboração de políticas públicas. E o mais saudável para esses espaços é a convivência de múltiplas visões para que os consensos sociais sejam encaminhados ao Executivo.

Não tinha mamata em dinheiro público, pois não há remuneração prevista para o cargo que Ilona ocuparia. E a grita histérica não percebeu que ela estava na suplência, nem efetivada na cadeira ainda estava. Quando eu falo que os imbecis venceram, você acha que eu exagero, né?

Moro e Bolsonaro tomaram um enquadro dos brucutus das redes sociais. Os toscos convenceram o presidente de que Ilona não poderia ficar. O capitão enquadrou o ministro. Que colocou o rabo entre as pernas e aceitou o que lhe foi imposto.

Sérgio Moro foi frouxo.

As desculpas que o ministro deu à pesquisadora foi de bunda suja, sem moral alguma. Se tivesse cojones, pedia demissão. Como não tem, enfiou o rabo entre as pernas.

Mais quantas enquadradas como essa Moro aguenta no cargo? Será que já bateu a saudade de quando era o herói de Curitiba que ilustrava outdoors Brasil afora?

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