Não ganhou destaque em lugar nenhum, só foi digno de comentários en passant. Notinhas de rodapé, falas protocolares. O barulho foi pífio. Afinal, já não se tratava exatamente de uma novidade. O sétimo ex-presidente do Brasil acabava de ser preso.
Mas o grande assunto nacional era a repatriação do veterano Neymar Bisneto pelo Flamengo. Depois de ganhar tudo na China, o maior mercado do futebol mundial, e ser o destaque da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2054, quando levantou o caneco do octacampeonato do torneio disputado no Egito, o craque voltava a jogar nos gramados tupiniquins.
A presidenta Maisa Silva nem fez questão de rememorar seus tempos televisivos. Preferiu o formalismo do texto escrito. Divulgou somente uma nota protocolar por meio da Comunicação do Planalto lamentando a prisão de mais uma autoridade, mas destacando que sua eleição em 2054 significava renovação e o sepultamento da velha política.
Arnon Collor de Mello Quarto havia sido preso no dia anterior, 21 de março de 2055, após ficar oito anos na presidência e entregar a faixa para Maisa.
A investigação da Polícia Federal descobriu que, durante os anos de Arnon em Brasília, um esquema de corrupção nas privatizações de equipamentos públicos no Nordeste rendeu milhões para os bolsos de políticos, aliados e empresários. Nada de novo no cenário político brasileiro.
A cobrança de propinas não se limitou ao momento das megaprivatizações. Elas continuaram mesmo depois que a iniciativa privada assumiu o controle dos bens. A transferência do patrimônio público para gestão particular foi a principal bandeira de campanha do descendente da dinastia Collor de Mello. O eleitorado comprou a ideia como panaceia para a roubalheira do erário.
Arnon foi transferido para a sede da Polícia Federal de Maceió, onde cumprirá pena de sete anos. Ele ainda responde a mais oito processos. O ex-presidente declarou, por meio de seus advogados de defesa, que a prisão foi “um arbítrio e que provará sua inocência”.
Na semana anterior, Kim Kataguiri, quinto ex-presidente preso por corrupção, progrediu de regime e foi para o semiaberto. O político conseguiu o benefício após cumprir pena de 6 anos no regime fechado.