Ando numa fase zen. Está difícil me tirar do sério. Ando pelas ruas com calma, prestando atenção em cada passo. Dirijo com prudência, olhando sempre ao retrovisor e dando seta. Exatamente como manda o manual do motorista.
Estou com minhas atividades profissionais em dia, sem grandes sobressaltos. Compreendi que quem nasceu pobre, como é meu caso, não tem muita opção para fugir da batelada de boletos. Aceitação de sua própria condição de devedor contumaz faz parte do processo de conquista da sanidade.
Venho me dedicando com disciplina ao esporte e à jardinagem (para quem não sabe, classifico cuidar do quintal como atividade física – só não o faz quem nunca se meteu nesse labor). Sinto o estresse ser excretado pelos poros enquanto estou no rala. Tento manter um prato mais saudável, ao menos de segunda a quinta.
Tenho o melhor tratamento psiquiátrico que meu orçamento permite. Horas e horas na cozinha, nas brassagens, nas leituras e nos discos. Ansiolíticos sem igual que recomendo a todos.
Estou 100% tchuchuca na vida. Mas preciso ficar mais tigrão. A realidade impõe.
O desgoverno que toca o Brasil não está suficiente para me deixar tigrão. Mas deveria. O problema é que toda essa bagunça já era previsível. Estava tudo na fuça há anos. Já disse que Jair Bolsonaro não está me decepcionando. Eu não esperava nada e é isso que estou recebendo.
Já quem tinha esperança está em outro patamar de relação com o governo federal. O agronegócio tinha expectativas, agora está de cabelo em pé com o medo de perder o mercado árabe. O pessoal do Ibovespa achava que o liberalismo econômico iria florescer no Brasil e agora está revendo seus prognósticos. Os evangélicos contavam com uma embaixada em Jerusalém e agora têm que se contentar com um mísero escritório comercial de inutilidade gritante.
Estou muito tchuchuca com tudo isso. Já contava com esse vai não vai, esse diz que faz mas não faz, esse clima contínuo de desnorte.
É impossível ficar pistola com algo que já estava precificado. O combinado nunca é caro. O despreparo do presidente para o cargo nunca foi negado pelo próprio. Estava mais que claro que a barafunda seria completa com Bolsonaro de presidente. Só acreditou que um péssimo deputado federal traria ordem e faria um bom governo quem acreditou em mamadeira de piroca que chegava pelo zap. Não estou nesse rol.
De onde menos se espera é que não sai nada mesmo. Bolsonaro é só mais um que confirma essa antiga tese.