Já assistiu ao filme do Mötley Crüe?”.

Caso você tenha qualquer tipo de envolvimento com música, mesmo que seja aquele fã distante com uma estantezinha de CDs empoeirados onde estão uma coletânea do Eric Clapton, o acústico dos Titãs e um disco de música clássica da Caras, já ouviu essa pergunta.

Sim, eu assisti no último final de semana.

O que achei? Posso dizer que me diverti com a história da banda farofa.

The Dirt: Confissões do Mötley Crüe é uma produção da Netflix. Ou seja, não foi para os cinemas e teve lançamento direto na plataforma online de audiovisual.

Com direção de Jeff Tremaine, o filme conta a história do quarteto formado em Los Angeles. Resgata a infância traumática do baixista Nikki Sixx, passa pelo encontro dos integrantes, primeiros shows, estrelato, crises e redenção. E treta, muita treta. O pilar de sustentação do roteiro está na essência vida louca da banda.

isso é divertido. Dá para rir um monte ao ver quatro inconsequentes se entupirem de drogas álcool como se não existisse amanhã. Fazendo sexo sem compromisso como se não existisse HIV.

Mas também fica evidente que isso é o que há de mais interessante no Mötley Crüe. Os excessos e a porralouquice são os fatores que garantem a própria existência de um filme sobre os quatro. A música… bem, sejamos sinceros, a música é algo que fica em segundo plano.

Antes de tudo, preciso jogar limpo. O hard rock de essência farofa está longe de ser um segmento dentro do rock pelo qual me dediquei com afinco. Nunca ouvi um disco inteiro do Mötley Crüe. Depois que assisti ao filme, ouvi a coletânea lançada em 1998. Na audição, fica claro que o período auge da banda, entre 1983 e 1989, é de menor relevância perante o que acontecia dentro do estilo. E é ridiculamente irrisório dentro do rock como um todo.

A real é que o Mötley Crüe não pega rodapé na história do rock. Se elencarmos 100 artistas ou bandas essenciais dorock, os quatro rapazes não entram nesse rol. Caso façamos um recorte dentro do hard rock, a presença deles não é certa em um top 10. Dentro do subgênero, o Van Halen fez melhor. O Guns n’ Roses foi maior (e também fez melhor). O Mötley Crüe disputa, no máximo, vaga para a Sul-Americana no hard rock com tabela de 20 participantes. Perigando cair para a Segundona.

Percebendo isso, o roteiro do filme não se aprofunda nas questões musicais da banda, como acontece no filme do Queen. É só festa, orgia e carreira de cocaína para tudo quanto é lado – abordagens que no filme de Freddie Mercury são desidratadas ao máximo para ficar com aquele timbre Sessão da Tarde. E na hora do drama, The Dirt não convence. A dor parece que não dói. Os dramas de divórcio, morte e prisão não emocionam o suficiente. Não oferecem dimensão real do que é passar por aquilo que eles enfrentaram por conta das escolhas pela vida hedonista.

Então vale gastar quase duas horas no filme do Mötley Crüe? Vale. A gente perde mais tempo olhado foto inútil da vida dos outros no Instagram. E vale ouvir a discografia da banda? Não, aí já é investir muito tempo em algo que não vai render tanto assim.

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