Minhas duas filhas são da geração 100% digital. A diferença de idade das duas é de nove anos. A primogênita está no segundo tempo da adolescência, se encaminhando para a fase adulta. A caçula, no auge da infância, ainda algum tempo distante da malfadada pré-adolescência.

Mesmo que as duas já tenham nascido em um ambiente no qual a presença da internet é tão comum quanto a energia elétrica para minha geração, a relação das duas com a rede é totalmente diferente. A primeira, cresceu brincando no computador de mesa, com um mouse para colocar a roupinha nas bonecas. A segunda, já é do mundo touch screen. Parece não ser nada, mas saber mexer com o mouse é uma diferença que altera a relação de gerações com o computador.

Certa vez, tive que buscar a mais nova na escola no meio da manhã por ela ter apresentado uma indisposição estomacal. Trouxe ela para o meu trabalho. Liguei um computador para que ela se distraísse enquanto eu terminava meus afazeres. Ela olhou para o mouse com uma interrogação estampada na face. Não sabia o que fazer com aquele objeto.

Vivi para ver o mouse se transformar em algo obsoleto. Inacreditável. Recordo meus primeiros contatos com esse aparelhinho e a setinha se movendo na tela do Windows 3.1 de um 386. Você ligava o computador e entrava no DOS. Eu sabia vários comandos que resolviam as coisas por ali mesmo. Mas quando entrávamos no Windows é que o mouse mostrava seu valor.

Demandava alguma destreza operar o mouse. E eu, com a minha péssima coordenação motora, apanhei para dominar seu funcionamento. Mexer em um pad azul e projetar esse movimento na setinha da tela não é algo simples como parece. Exige uma programação mental que não me foi automática. Até pegar o jeito, leva um tempo. Depois, fica óbvio.

Triste sina do objeto que foi tão central na operação de um computador. Hoje, está fadado aos museus. O dedo na tela matou o mouse.

As mudanças tecnológicas acontecem com tamanha rapidez que nos engolem. Parece que quando nos acostumamos com um novo utensílio, ele já ficou arcaico. Minha caçula vai olhar o mouse como eu via o ferro à brasa na casa do meu avô no interior de Goiás. A presença viva e ainda sendo usada de um tempo que passou.

A diferença é que o período de apogeu do ferro à brasa foi bem superior ao do mouse. Cada um vai até onde dá conta. O tempo do mouse já passou.

Comente

X