Não, não é disso que estou falando. Esse texto não trata da tragédia no CT do Flamengo. Estou falando literalmente de um ninho de urubu. Com ovos, um casal cuidando, uma fêmea chocando. E que não existe mais.

No meu trampo diário, urubus são parte da fauna frequentemente vista. Trabalho perto de uma reserva na Região Norte de Goiânia. Da janela lateral de minha sala, é comum ver animais que não topamos normalmente em Goiânia. Macaquinhos, tucanos, aves coloridas que não tenho a mínima ideia do nome… E urubus. Vários urubus.

Eles andam pela grama, secam as asas no telhado, passeiam pelo jardim. Não causam incômodo. Por isso, ganharam o afeto de uma parcela dos meus colegas de trabalho. Não de todos, é claro. Mas têm seu eleitorado cativo.

Não tenho relação de ódio aos urubus. Por ter o Flamengo como segundo time, poderia ser mais afetuoso o sentimento. Também não é o caso. O urubu me é completamente indiferente. Não tenho raiva, não tenho carinho. Sinto muito, mas não sinto nada. Preciso ser sincero.

Ao pé de uma espatódea ao lado da janela lateral que aqui já citei, nasce uma jiboia que sobre pelo caule. Nessa moita, uma fêmea começou a colocar seus ovos. Já tinha uma meia dúzia quando ela começou a chocar, sempre acompanhada do olhar atento de seu companheiro macho. Um casal simpático.

Alguns colegas se afeiçoaram à cena. O casal virou quase que animal de estimação da firma. As pessoas estavam acompanhando a gestação dos filhotes de urubu com curiosidade e algum afeto.

Numa manhã de segunda-feira, os ovos não estavam mais lá. Quando minha colega que registrava com fotos todos os dias a evolução do ninho viu isso, se indignou. Pensei que pudesse ser algum predador. Ela foi averiguar pelos corredores do órgão o que havia acontecido. Soube que algum incomodado com a presença dos urubus denunciou o ninho ao chefe de administração. Ele ordenou a retirada dos ovos no final de semana, já prevendo que poderia pintar resistência caso fizesse em dia de expediente.

Como se desenhava, a decisão gerou revolta. Foram conversar com o chefe que colocou seu ponto de vista calcado na questão de saúde pública. Por mais bonitinho que sejam, ainda estamos falando de urubus. Foi um bom argumento.

A cena do casal perdido ao redor da árvore procurando o ninho acentuou a indignação. E a torcida para que eles montem novamente um ninho no local. Não acho provável. Eles sabem que ali não foi seguro uma vez. Não vão repetir o erro.

Se eles soubessem que já existe até um plano para cuidar dos ovos em uma futura empreitada, teriam maior tranquilidade para reconstruir seu ninho. Falta só alguém comunicá-los.

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