Nunca imaginei que estaríamos conversando sobre as eleições presidenciais de 2022 agora. Ainda nem findamos os primeiros seis meses de governo e o assunto já está na pauta. Impressionante. Mas é isso aí mesmo. O pleito presidencial de outubro de 2022 já está na boca do povo. Nos discursos de Jair Bolsonaro, na motivação de indicações de cargos e nas movimentações de tabuleiro. Quem será beneficiado com isso? Não faço a mínima. Só o tempo dirá.

Veja essa questão que envolve o GP Brasil de Fórmula 1. O contrato assinado entre a modalidade automobilística e o estado de São Paulo está firmado até 2020. Ou seja, teremos, ao menos por mais dois anos, os carrões disputando o podium na terra da garoa. E, no que depender do esforço presidencial, será só até aí mesmo. O desejo de Bolsonaro é que, depois disso, a Fórmula 1 aconteça na cidade maravilhosa.

Isso faz parte do projeto de disputa de reeleição de Bolsonaro. Não é segredo para ninguém que João Dória está na pista, sem trocadilhos. O governador de São Paulo encara o atual cargo como trampolim para Brasília. O problema é que Bolsonaro também pretende estender sua permanência no Palácio do Planalto até 2026. Contrariando o que disse em campanha, o capitão quer mais. Tudo certo. É seu direito. Mas seria apropriado antecipar o assunto de tal forma? E mais: seria producente dentro de seu objetivo? Tenho dúvidas.

Ao trazer um assunto totalmente periférico para o centro da pauta, Bolsonaro revela sua falta de noção acerca do que é prioridade. Tudo bem que é simbólico tirar a Fórmula 1 da alçada de um concorrente e trazer para sua base eleitoral. Movimenta as redes sociais. Gera um burburinho. No entanto, o que isso resolve para os 13 milhões de desempregados Brasil afora? Pois é: absolutamente nada.

Pessoalmente, não estou nem aí para a Fórmula 1. Se o GP fosse disputado em Goiânia e eu tivesse ganhado ingressos, mesmo assim não iria. Acho chato pra cacete. Não me emociona, não me causa nada fora o enfado. Outra pessoa aproveitaria melhor a oportunidade. Mas não estamos falando disso, estamos falando de política. Isso sim me interessa. Muito.

A movimentação de Bolsonaro faz Dória recuar algumas casas em seu projeto de privatizar o autódromo de Interlagos. Fica mais difícil para o paulista negociar a renovação do contrato com uma mudança de gestão do espaço no meio do caminho.

Até agora, só o presidente atacou. Temos que ver a reação como será. O paulista ainda não contra-atacou. Moldado no meio empresarial, Dória tem mais traquejo que Bolsonaro nesse tipo de articulação. Afinal, não podemos dizer que o presidente é alguém com talento para negociação, não é mesmo? Tato para isso, é notório, ele não tem.

A Fórmula 1 se transformou em troféu a ser exibido por quem conseguir sediar a prova. Aguardemos as próximas movimentações. Até o momento, quem ganhou com essa improvável disputa foi só a própria organização das corridas. O valor de seu passe cresceu no mercado. E isso será cobrado. Em dólares. Ah, se vai.

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