Quando conheci o tipo desse negócio, resisti um pouco, mas acabei entregando os pontos e aderindo à modinha. Confesso: sou cliente dessas chamadas barbearias gourmet. Ok, espero você terminar sua gargalhada para continuar o texto.

Posso seguir adiante?

Beleza, vamos.

Recordo exatamente o dia em que, pela primeira vez, ouvi que Goiânia iria ter esse tipo de empreendimento. Eu já havia lido sobre as barbearias que apareciam em São Paulo. Vendiam cervejas e hambúrgueres. Tinham fliperama, mesa de sinuca e videogames para a espera. Tocavam rock e eram decorados como pubs. E, acredite, você ainda podia cortar o cabelo e fazer a barba. Achei uma grande palhaçada.

Quando o Ricardo me disse que estava abrindo a Like a Boss (não sei se a primeira barbearia gourmet de Goiânia, mas a primeira que chegou a meu conhecimento), achei que ele era louco. Tinha certeza que o cara quebraria rapidamente. Não via o menor sentido em pagar mais de 50 reais por algo que eu gastava 12, tudo em valores da época. Achei que ele não teria público. Para você ver como meu faro para empreendedor é apurado…

Naquele momento, eu cortava o cabelo na Barbearia Guimarães, no antigo Bairro Popular. Frequentava o lugar desde criança. Todos homens da família era clientes do local. Meu avô, meu pai, meus tios, meus primos. Era um ambiente macho raiz. No rádio, só rolava programação esportiva. Para aguardar o atendimento, tínhamos para ler a Playboy, Quatro Rodas, O Popular e Diário da Manhã. As conversas eram só sobre futebol. Bons tempos.

Isso ficou para trás em minha vida. Eu me rendi aos confortos da barbearia gourmet. A cada três ou quatro meses, em alguns casos um semestre, vou nesses lugares tão macho nutella dar um trato no cabelo e na barba.

Ontem, foi o dia. Pela primeira vez, tive atendimento duplo. Um simpático casal cuidou dos pelos que brotam da minha face e couro cabeludo. O rapaz priorizou a cabeça. A jovem, a barba.

Em dado momento, ela me ofereceu um serviço que não tinha a menor ideia que existia: barbaterapia. A garota me disse que meus pelos estão muito ressecados e seria legal se me submetesse ao tratamento para uma hidratação geral. Tive que segurar para não rir. Veja bem, tenho 40 anos e nunca fiz análise ou terapia. Não que não precise, isso é outro assunto. Mas se nem para a cabeça topei fazer um tratamento, não seria pela barba, né? Ela riu da minha resposta tosca e seguiu com o serviço.

Mas eu me conheço. Se há anos achei sem sentido a tal da barbearia gourmet e hoje sou cliente, não será surpresa se, daqui um tempo, eu tiver uma barbaterapia agendada. E você terá todo direito de zoar com minha cara.

PS: Só para lhe atualizar sobre a Barbearia Guimarães, ela também passou pelo processo de gourmetização. Desde que me mudei de bairro, deixei de transitar na região com frequência. A última vez que passei na porta, ela estava com luminosos na porta, vendia cervejas artesanais e ostentava toda aquela pinta que você conhece. Não sei se meu pai e meu avô ainda são clientes do local.

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