OpiniãoOQRTendência Pablo Kossa

Deu saudades da Rádio Universitária

27 de agosto de 2019 Nenhum Comentário

No último sábado, estava com minhas duas filhas no carro, parado no sinaleiro que regula o fluxo do cruzamento entre a Alameda das Rosas e a Avenida Anhanguera. O relógio marcava 13 horas. Sol quente rachando a cabeça. No som, uma coletânea do Martinho da Vila ornava perfeitamente com o astral do dia. Dava pra dizer que tudo estava perfeito.

A vida passa em frente aos olhos enquanto esperamos a luz brilhar em verde para seguirmos nosso curso. Nesse flanar do olhar, percebi um pequeno grupo de estudantes que saía da Rádio Universitária. Três ou quatro jovens, magrinhos, aura boa. Mochilas, sorrisos, alegria. Um garoto abraçava uma menina que gargalhava. Bateu uma saudade… Lembrando Mano Brown, 20 anos atrás eu estava ali no meio.

Será que eles fazem parte do Matéria Prima? Será que esse programa ainda existe? Ou será que são dos Doutores da Bola? Será que estavam em reunião de pauta? Será que saíam depois de apresentar algum programa? Ou de uma reunião de pauta? Será que iriam para a padaria beber umas cervejas? Ou será que cada um seguiria seu caminho para casa? Nunca saberei.

Devo um bom tanto de minha formação à Rádio Universitária. A primeira vez que falei em um microfone de rádio foi lá. E ainda hoje esse instrumento garante parte do meu sustento. Transbordo orgulho desse ofício. E a emissora sintonizada em 870 AM tem sua responsabilidade nisso.

Meu primeiro contato com a Rádio Universitária foi como ouvinte. Quando passei no vestibular em 1999, já sabia que queria fazer algo por lá. Tive a sorte de ocupar várias funções na emissora. Como estudante de Jornalismo, como jornalista concursado da UFG lotado na rádio, como professor substituto da Facomb. Nem consigo me lembrar de quantos programas trabalhei. Vórtex, Matéria Prima, Vestibular, Jornal das Seis, Panorama, Doutores da Bola, Eleições e mais tantos outros que minha memória não permite citar agora.

O sinaleiro abriu e segui meu caminho. Precisava ir na Brauhaus levar minha produção de cervejas caseiras que vão concorrer no campeonato interno da Acerva Goiana. Uma Doppelbock que, acho, está promissora. Tenho fé em uma boa avaliação. Depois, tinha que levar as garotas para almoçar.

Para matar a nostalgia, tirei o disco do Martinho da Vila e sintonizei nos 870 AM. Decepção. A chiadeira me impediu sequer de reconhecer a música que estava tocando. Impossível distinguir o que rolava. Certamente, algo entre Heitor Villa-Lobos e Sepultura. Isso é Rádio Universitária. E por isso ela é tão especial.

 

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás (UFG).

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