OpiniãoTendência Pablo Kossa

Meu maldito hábito de esquecer das melhores ideias

16 de agosto de 2019 Nenhum Comentário

Nada é mais fugidio que uma boa ideia. Ela sabe do seu valor e faz charme. Aparece em minha cabeça e, rapidamente, dá o fora. Não deixa rastros. Somente aquela raiva de ter desperdiçado algo que garante meu sustento: a defesa de minhas ideias paga meu feijão.

As melhores ideias pintam nos momentos mais inapropriados. Normalmente, estou em alguma atividade. Com as mãos ocupadas, no meio da correria do dia a dia, sem a menor possibilidade de rascunhá-la em um papel qualquer para ser utilizada depois. E é claro que me esquecerei da grande ideia.

Somente as péssimas ideias são perenes. As mais batidas, as mais ordinárias, as mais mequetrefes são aquelas que não me esqueço, por mais que me esforce. E esse é o motivo pelo qual esqueço as melhores ideias. O espaço cerebral fica ocupado pelas ideias ruins e não sobra HD para as boas.

A escassez de boas ideias vêm junto da escassez de tempo para pensar. Convenhamos, estamos correndo demais para viver um pouquinho pior. A cada dia, perdemos uma coisinha e vivemos pior. Só piorando. A passos de formiga e sem vontade. Decadência lenta e gradual. Que beleza…

Por isso, só tenho tempo para pensar quando estou fazendo caminhada, quando estou discotecando, quando estou cozinhando, quando estou tomando banho ou quando estou dormindo. Nessa ordem. Eventualmente, pinta uma ideia entre uma ou outra atividade. E são essas as que mais facilmente esqueço.

Sei de jornalista que, ao sair da cama e tirar o pijama, já coloca o bloquinho e a caneta no bolso. Antes de pegar o celular para checar as mensagens, antes de colocar os óculos. Em qualquer canto, pode encostar e anotar o que lhe vem à mente. Admiro, mas não consigo ter tamanha disciplina. Talvez seja justamente esse o motivo do cara ser um dos mais respeitáveis profissionais de imprensa do Brasil e eu ser quem lamentavelmente sou. A vida é dura.

E se os maus hábitos acumulados de uma vida atuam na minha péssima memória que só segue ladeira abaixo ano a ano, eu deveria criar vergonha na cara e partir para um comportamento mais disciplinado. Certeza que ajudaria muito meu labor. Mas, admito com algum constrangimento, sinto uma preguiça…

Preciso encarnar a Rita Lee e um belo dia resolver mudar. Mas só para fazer tudo aquilo que nunca quis fazer. Já me diverti muito deixando o id no controle. Prometo agora dar mais espaço ao superego. Só não me pressione pedindo prazos. Se não acabo me esquecendo dessa boa ideia.

 

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela UFG.

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