Rodrigo Janot fez um mal imenso ao país ao abrir sua boca agora. Aposentado que está, poderia estar lendo um monte, curtindo a vida, bebendo suas Ipas e demais cervejas artesanais que admira, viajando horrores… Tudo nos conformes. Com o belíssimo salário que cai em sua conta todo mês e sem precisar se dedicar às incontáveis horas de trabalho, está em situação que a maioria absoluta do povo brasileiro sonha estar.
Mas não. Preferiu tacar gasolina nessa fogueira que está o Brasil. Quem não pode ajudar, que não atrapalhe. É o que diz o ditado. Janot preferiu o tumulto.
Todos sabemos que a Lava Jato como conhecemos só existe por contar com Janot como procurador-geral da República naquele momento. Não se trata de um elogio ou crítica de minha parte nesse momento, apenas uma constatação. Ele endossou e deu suporte para o que rolava em Curitiba. De bom e de ruim.
Num contexto atual onde a operação capitaneada por Sérgio M…, ops, Deltan Dallagnol encontra-se contra a parede, Janot contribui para corroer a reputação dos trabalhos. Além daqueles que claramente desrespeitaram o devido processo legal, mas também dos que foram conduzidos de forma séria. Tudo está indo para o mesmo balaio.
Ao afirmar que entrou armado no Supremo Tribunal Federal para dar um tiro na cara de Gilmar Mendes, Janot mostrou mais que seu comportamento irascível, irracionalidade e truculência. Mostrou também que não tinha controle emocional algum para exercer aquele cargo. Não estava à altura do mesmo. Revelou-se um risco real à integridade física de quem ele considerava adversário. O que é inaceitável em qualquer democracia.
Aqueles que trabalharam com Janot nos tempos de PGR duvidam da versão publicada ontem. Não acreditam que ele realmente fez o que disse que fez. Hoje, pouco importa. A versão que Janot deseja nos livros de história é a que verbalizou ontem. Lastimável.
O Brasil precisa de temperança, diálogo, entendimento, compreensão e respeito entre adversários. Precisamos de bombeiros, interlocutores e distensionamento. Os Neros estão por aí aos montes. Não precisamos deles.
O que Janot diz ter feito até poderia ser publicado caso ele realmente assim quisesse. Daqui vinte anos. Quando Gilmar Mendes já gozasse de sua aposentadoria, estivéssemos vivendo outro momento histórico, o ciclo lavajatista já tivesse se findado. Ainda assim seria polêmico, mas não contribuiria para mais balbúrdia institucional no Brasil.
Com esse tanto de lunático de rede social propondo a barbárie, os terraplanistas institucionais de inspiração lunática podem tentar levar a cabo o que Janot almejou fazer. O antigo procurador-geral da República pode servir de inspiração. Aí, meu amigo, teremos cruzado uma fronteira que sabe-se lá as consequências. Prevejo que péssimas.

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás (UFG).