OpiniãoOQRTendência Pablo Kossa

Janot deveria ter ficado calado

27 de setembro de 2019 Nenhum Comentário

Rodrigo Janot fez um mal imenso ao país ao abrir sua boca agora. Aposentado que está, poderia estar lendo um monte, curtindo a vida, bebendo suas Ipas e demais cervejas artesanais que admira, viajando horrores… Tudo nos conformes. Com o belíssimo salário que cai em sua conta todo mês e sem precisar se dedicar às incontáveis horas de trabalho, está em situação que a maioria absoluta do povo brasileiro sonha estar.

Mas não. Preferiu tacar gasolina nessa fogueira que está o Brasil. Quem não pode ajudar, que não atrapalhe. É o que diz o ditado. Janot preferiu o tumulto.

Todos sabemos que a Lava Jato como conhecemos só existe por contar com Janot como procurador-geral da República naquele momento. Não se trata de um elogio ou crítica de minha parte nesse momento, apenas uma constatação. Ele endossou e deu suporte para o que rolava em Curitiba. De bom e de ruim.

Num contexto atual onde a operação capitaneada por Sérgio M…, ops, Deltan Dallagnol encontra-se contra a parede, Janot contribui para corroer a reputação dos trabalhos. Além daqueles que claramente desrespeitaram o devido processo legal, mas também dos que foram conduzidos de forma séria. Tudo está indo para o mesmo balaio.

Ao afirmar que entrou armado no Supremo Tribunal Federal para dar um tiro na cara de Gilmar Mendes, Janot mostrou mais que seu comportamento irascível, irracionalidade e truculência. Mostrou também que não tinha controle emocional algum para exercer aquele cargo. Não estava à altura do mesmo. Revelou-se um risco real à integridade física de quem ele considerava adversário. O que é inaceitável em qualquer democracia.

Aqueles que trabalharam com Janot nos tempos de PGR duvidam da versão publicada ontem. Não acreditam que ele realmente fez o que disse que fez. Hoje, pouco importa. A versão que Janot deseja nos livros de história é a que verbalizou ontem. Lastimável.

O Brasil precisa de temperança, diálogo, entendimento, compreensão e respeito entre adversários. Precisamos de bombeiros, interlocutores e distensionamento. Os Neros estão por aí aos montes. Não precisamos deles.

O que Janot diz ter feito até poderia ser publicado caso ele realmente assim quisesse. Daqui vinte anos. Quando Gilmar Mendes já gozasse de sua aposentadoria, estivéssemos vivendo outro momento histórico, o ciclo lavajatista já tivesse se findado. Ainda assim seria polêmico, mas não contribuiria para mais balbúrdia institucional no Brasil.

Com esse tanto de lunático de rede social propondo a barbárie, os terraplanistas institucionais de inspiração lunática podem tentar levar a cabo o que Janot almejou fazer. O antigo procurador-geral da República pode servir de inspiração. Aí, meu amigo, teremos cruzado uma fronteira que sabe-se lá as consequências. Prevejo que péssimas. 

 

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás (UFG).

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