OpiniãoRevistaTendência Pablo Kossa

Miserê

13 de setembro de 2019 Nenhum Comentário

Você acha que é fácil? Eu acordo todos dias seis e meia da manhã. Levo as crianças na escola particular e vou para a academia. Tudo isso custa uma nota. O IPVA de minha caminhonete que nunca viu estrada de chão é caríssimo. E como bebe essa danada… Haja combustível para rodar com o ar-condicionado no máximo para refrescar quem é obrigado a andar de terno e gravata todos os dias. Por falar nisso, já viram o quanto estão caras essas vestimentas?

Chego no Ministério Público, bebo uma cápsula do meu expresso preferido que também não é nada barato. E lá vou eu para a pilha de processos que me espera. Segue audiência, segue reunião, segue, investigação, segue leitura, segue rede social, segue, segue, segue…

Duas férias por ano são pouco para descansar de tanto estresse. Onde estão nossos deputados pensando em corrigir essa distorção de uma vida tão miserê?

Custear o vinho importado não anda fácil. Duas viagens internacionais para preencher de atividades turísticas os 60 dias anuais de folga remunerada não é moleza. Que miserê…

Minha esposa falou para me candidatar a um cargo qualquer. Senador, talvez. Tudo para ver se melhoramos a renda de casa. Tadinha, tão inocente. O Dallagnol estava certo. Para político, o miserê é ainda maior O colega curitibano disse que o Senado “é uma turbulência na vida familiar, ganha menos, tem menos férias, fica tomando pedrada na vitrine num jogo de mentiras”. Está certinho! Miserê por miserê, no Ministério Público é mais tranquilo.

Quem vai lutar por nossa categoria? Desculpe, mas, infelizmente, não tenho origem humilde. Estudei em escola cara. Tinha mochila Company nova todo ano. Tênis M2000 de monte. Fui pra Disney com a Tia Eliana. E agora você quer que eu viva com ridículos 24 mil reais por mês? Tenha santa paciência!

E não me venha falar dos penduricalhos. Aquilo lá não paga o supermercado do mês. Abastecer a geladeira nos empórios está caro demais. Sem falar no que me cobra todo mês o condomínio do prédio de um apartamento por andar que eu moro. Custa o olho da cara.

Sério, não aguento mais esse miserê. Alguém me ajude, por favor. Vida de assalariado no Brasil não é fácil. Só 24 mil reais! pelo amor de Deus, só 24 mil reais… O que eu vou fazer de minha vida?

 

Pablo Kossa é jornalista, produtor cultural e mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Goiás (UFG)

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